"Não, a revista SET não acabou. De jeito nenhum. Sem chances. Não, não. Uma revista de cinema como a SET, que, em vez de leitores, tem fãs, não vai jamais morrer. No próximo dia 5 chega às bancas de todo o Brasil a NOVA SET, melhor, mais bonita e mais integrada com o mercado nacional. A revista, que traz um especial sobre 'O exterminador do futuro - A salvação', está sendo editada agora por uma equipe carioca formada por Mario Marques (publisher) e Carlos Helí de Almeida, Marco Antonio Barbosa, Nelson Gobbi e Robert Halfoun (editores). A SET é reforçada com três novos colunistas: Luiz Noronha (Ex-editor do Segundo Caderno do Globo, sócio da Conspiração Filmes), Pedro Butcher (crítico da Folha de São Paulo e editor do site Filme B) e Marcelo Cajueiro (correspondente no Brasil da revista 'Variety')."
31.5.09
30.5.09
SHOGUN ASSASSIN (1980), de Robert Houston
Em 1980 estreou nos Estados Unidos essa pequena peça do cinema oriental carregando o nome do diretor americano Robert Houston nos créditos. Trata-se, na verdade, de uma espécie de picaretagem das mais disfarçadas. O fato é que o diretor, também produtor, fã dos chambara movies, comprou os direitos dos dois primeiros filmes da série Lone Wolf (ou Lobo Solitário, como ficou conhecido aqui no Brasil), e resolveu editar, pegando sequencias dos dois filmes, transformando num filme único que se chamou SHOGUN ASSASSIN!
Eu recomendaria os originais antes de assistir a esta obra, mas eu mesmo nunca vi algum filme da série Lone Wolf, e para falar a verdade, nem sabia do lance da picaretagem, mas tudo bem. Procurando informações sobre o caso, deparei-me com algumas diferenças entre a série de filmes do personagem com o filme de Houston que valem a pena comentar. Um das principais é, obviamente, o áudio em inglês, isso provavelmente aconteceu por dois motivos suspeitáveis: 1) o filme foi dublado para que os americanos retardados não precisassem se esforçar na árdua leitura de legendas; 2) Dublando as falas, pode-se manipular o enredo do filme fazendo com que os personagens digam o que os roteiristas quisessem.
Prefiro acreditar na segunda hipótese, embora seja estranho um bando de japoneses do período feudal trocando idéias entre si em inglês, mas também não restam dúvidas de que os americanos são realmente retardados ao ponto de dublarem os filmes para não ler legendas.
Outra questão: o filme possui uma narração em off realizada por Daigoro, o filho do protagonista, ainda criancinha, atuando como a consciência narrativa, com um ponto de vista ingênuo, fantasioso e com um efeito emocional muito maior que, com certeza, os filmes originais devem conter. O próprio diretor afirma que essa narração pode ajudar o publico americano a simpatizar-se pelos aspectos mais humanos da estória. Na minha opinião, a narração só serve pra encher linguiça, ou para justificar os exageros do filme por se tratar da visão de um menino.
Fazendo a mixagem de dois filmes, SHOGUN ASSASSIN acaba possuindo apenas um fiapo como argumento, trazendo como protagonista um virtuoso samurai (Tomisaburo Wakayama) que bate de frente com o Shogun local. Este último pede a cabeça do nosso herói, que passa a vagar com seu filho, dentro de um carrinho, por bucólicos cenários japoneses. E só! Durante essa jornada, ele enfrenta os assassinos contratados do Shogun ou arranja algum serviço como matador profissional. É como os saudosos video games que jogávamos no inicio dos anos 90, em 2D, onde o personagem só tinha uma direção a tomar e encontrava os oponentes para lutar e seguir em frente até encontrar com o chefão da fase.
Até mesmo a trilha sonora contribui bastante com isso, uma melodia moderna produzida por sintetizadores e guitarras que não combinam em nada com filmes de samurai, mas é mais um elemento inconfundível adotado pela edição americana desta bagaça.
Os “chefões da fase” de SHOGUN ASSASSIN são os três senhores da morte, idênticos aos três mestres que aparecem em OS AVENTUREIROS DO BAIRRO PROIBIDO, de John Carpenter, que deve ser um fã da série Lone Wolf.
Os filmes do Lobo Solitário foram baseados em um mangá e fizeram parte deste subgênero pouco divulgado hoje em dia, conhecido como chambara. Para entender um bocado, é bem simples, imaginem um filme do mestre Akira Kurosawa, como OS SETE SAMURAIS, ou YOJIMBO, mas com um visual estilizado com muito mais intensidade e violência gráfica exagerada triplicada! As sequências de ação são preenchidas com muita dose de sangue jorrando e uma quantidade enorme de membros decepados em situações que beiram o absurdo. E apesar disso, as tramas sempre são contextualizadas e precisamente detalhadas dentro da história do Japão feudal.
Por si só, SHOGUM ASSASSIN é um filme bastante divertido e hoje em dia é considerado um clássico cult para os apreciadores de qualquer subgênero do cinema de exploração. Agora eu preciso criar vergonha nessa cara porca e assistir aos filmes originais da série.
Eu recomendaria os originais antes de assistir a esta obra, mas eu mesmo nunca vi algum filme da série Lone Wolf, e para falar a verdade, nem sabia do lance da picaretagem, mas tudo bem. Procurando informações sobre o caso, deparei-me com algumas diferenças entre a série de filmes do personagem com o filme de Houston que valem a pena comentar. Um das principais é, obviamente, o áudio em inglês, isso provavelmente aconteceu por dois motivos suspeitáveis: 1) o filme foi dublado para que os americanos retardados não precisassem se esforçar na árdua leitura de legendas; 2) Dublando as falas, pode-se manipular o enredo do filme fazendo com que os personagens digam o que os roteiristas quisessem.
Prefiro acreditar na segunda hipótese, embora seja estranho um bando de japoneses do período feudal trocando idéias entre si em inglês, mas também não restam dúvidas de que os americanos são realmente retardados ao ponto de dublarem os filmes para não ler legendas.
Outra questão: o filme possui uma narração em off realizada por Daigoro, o filho do protagonista, ainda criancinha, atuando como a consciência narrativa, com um ponto de vista ingênuo, fantasioso e com um efeito emocional muito maior que, com certeza, os filmes originais devem conter. O próprio diretor afirma que essa narração pode ajudar o publico americano a simpatizar-se pelos aspectos mais humanos da estória. Na minha opinião, a narração só serve pra encher linguiça, ou para justificar os exageros do filme por se tratar da visão de um menino.
Fazendo a mixagem de dois filmes, SHOGUN ASSASSIN acaba possuindo apenas um fiapo como argumento, trazendo como protagonista um virtuoso samurai (Tomisaburo Wakayama) que bate de frente com o Shogun local. Este último pede a cabeça do nosso herói, que passa a vagar com seu filho, dentro de um carrinho, por bucólicos cenários japoneses. E só! Durante essa jornada, ele enfrenta os assassinos contratados do Shogun ou arranja algum serviço como matador profissional. É como os saudosos video games que jogávamos no inicio dos anos 90, em 2D, onde o personagem só tinha uma direção a tomar e encontrava os oponentes para lutar e seguir em frente até encontrar com o chefão da fase.
Até mesmo a trilha sonora contribui bastante com isso, uma melodia moderna produzida por sintetizadores e guitarras que não combinam em nada com filmes de samurai, mas é mais um elemento inconfundível adotado pela edição americana desta bagaça.
Os “chefões da fase” de SHOGUN ASSASSIN são os três senhores da morte, idênticos aos três mestres que aparecem em OS AVENTUREIROS DO BAIRRO PROIBIDO, de John Carpenter, que deve ser um fã da série Lone Wolf.
Os filmes do Lobo Solitário foram baseados em um mangá e fizeram parte deste subgênero pouco divulgado hoje em dia, conhecido como chambara. Para entender um bocado, é bem simples, imaginem um filme do mestre Akira Kurosawa, como OS SETE SAMURAIS, ou YOJIMBO, mas com um visual estilizado com muito mais intensidade e violência gráfica exagerada triplicada! As sequências de ação são preenchidas com muita dose de sangue jorrando e uma quantidade enorme de membros decepados em situações que beiram o absurdo. E apesar disso, as tramas sempre são contextualizadas e precisamente detalhadas dentro da história do Japão feudal.
Por si só, SHOGUM ASSASSIN é um filme bastante divertido e hoje em dia é considerado um clássico cult para os apreciadores de qualquer subgênero do cinema de exploração. Agora eu preciso criar vergonha nessa cara porca e assistir aos filmes originais da série.
29.5.09
Claro que eu não iria ficar de fora!
Aderindo à campanha iniciada pelo Leopoldo Tauffenbach, faço também o meu manifesto pela busca do paradeiro deste senhor aí da imagem acima. Se alguém tiver alguma informação, favor entrar em contato.
Grato.
28.5.09
THE BIG RACKET (Il Grande Racket, 1976), de Enzo G. Castellari
Já faz alguns dias que assisti a este poliziesco de primeiríssima qualidade com assinatura do mestre italiano Enzo G. Castellari, o mesmo que já nos brindou com clássicos como ASSALTO AO TREM BLINDADO, KEOMA, GUERREIROS DO BRONX e muitos outros. THE BIG RACKET é mais um filmaço do diretor, hours-concours do cinema policial italiano e obrigatório para qualquer criatura que deseja enveredar-se pelo subgênero mais cool do cinema carcamano!
Fabio Testi, ator magnífico, encabeça o elenco interpretando um policial do tipo linha dura que não se inibe ao utilizar métodos nada ortodoxos contra a bandidagem, principalmente quando se trata dos membros de uma organização criminosa que cobra dos pequenos comerciantes uma “taxa de proteção” absurda. E pior para aqueles que não aceitarem as condições dos bandidos, como é mostrado já nos créditos iniciais!
Fabio Testi, ator magnífico, encabeça o elenco interpretando um policial do tipo linha dura que não se inibe ao utilizar métodos nada ortodoxos contra a bandidagem, principalmente quando se trata dos membros de uma organização criminosa que cobra dos pequenos comerciantes uma “taxa de proteção” absurda. E pior para aqueles que não aceitarem as condições dos bandidos, como é mostrado já nos créditos iniciais!
A coisa fica mais feia ainda quando os criminosos rolam o carro do protagonista por uma ribanceira abaixo - com ele dentro, diga-se de passagem - numa cena espetacular com a câmera dentro do carro filmando o próprio Fabio Testi experimentando a sensação de capotagem em um terreno bastante íngreme. E as iniqüidades não param por aí: toda vez que o personagem de Testi consegue prender de forma legal algum membro da organização, um advogado liberta o vagabundo com a maior facilidade. E se eu disser que as perversidades dos delinquentes ainda não param por aí, alguém acreditaria? Mas pra saber mais, você vai ter que assistir ao filme...
“O jeito é resolver a situação à base de chumbo grosso!”, assim pensa o nosso herói. Mas antes de agir como um vingador solitário armado até os dentes, como Charles Bronson em DESEJO DE MATAR, ele recruta alguns indivíduos que possuem conta em aberta com os bandidos e estão sedentos de vingança! E uma dessas vítimas ansiosa pelo seu dia de desforra, é interpretada pelo grande Vincent Gardênia. Alguns outros nomes também são bem conhecidos no meio dos subgêneros italianos como Orso Maria Guerrini e Joshua Sinclair.
Mas o que mais chama a atenção, dentre todas as qualidades que THE BIG RACKET possui, é mesmo a direção de Castellari nas cenas de ação. O sujeito deve ter acordado com o pé direito em todos os dias de filmagens. Duas sequencias, em especial, são verdadeiras aulas de como uma boa action scene deve ser filmada, com bastante estilo e sem frescuras: o tiroteio entre os vagões e claro, o grande final, uma das demonstrações mais expressivas de ação no cinema de Castellari, com direito as suas habituais câmeras lentas e brutalidade explícita. Mais um belo exemplar altamente recomendado!
Como não poderia deixar de fazer, indico um ótimo texto do Felipe M. Guerra sobre o filme. Basta clicar aqui.
26.5.09
ZERO WOMAN: RED HANDCUFFS (Zeroka no onna: Akai wappa, 1974), de Yukio Noda
Para quem está a fim de uma dose na veia de violência estilística, artsploitation apurado, nada melhor que este primeiro filme da série ZERO WOMAN, que rendeu diversas sequências ao longo dos anos, inclusive na década de noventa e nesta atual, que acabaram direto no mercado de DVD's. Não cheguei a ver nenhum filme mais recente da série, mas não devem ter o mesmo nível criativo e contextual deste clássico do cinema de exploração japonês.
ZERO WOMAN: RED HANDCUFFS é um autêntico Pink Violence, bastante elegante na sua concepção visual, na combinação dos filmes policiais dos anos setenta com uma brutalidade explícita e estilizada que rendem um belo culto à violência visceral. Infelizmente, peca um bocado pela misoginia, hoje vista pelos maus olhos da sociedade com muito mais afinco, mas na época devia fazer a alegria das bichas enrustidas, mas isso não estraga a diversão...
Resumindo consideravelmente a trama, Miki Sugimoto vive a policial de um departamento especial, a “Zero Womam” do título, com a missão de resgatar a filha de um poderoso político das mãos de seis seqüestradores, sem que a situação se torne pública, o que acarretaria num escândalo para o inescrupuloso homem do governo, que pretende se candidatar a primeiro ministro do Japão. Para isso, a heroína precisa exterminar todas as provas do crime, isso inclui os seis meliantes.
O líder dos criminosos é interpretado por Eiji Go, num excelente desempenho, bastante expressivo. O filme retrata os bandidos como sujeitos de índole profundamente má, capazes de praticar as mais puras bestialidades sem arrependimento, deixando gente como Frank, de Henry Fonda em ERA UMA VEZ NO OESTE ou o reverendo Harry Powell, de Robert Mitchum em O MENSAGEIRO DO DIABO, de cabelos arrepiados!
Mas tudo isso torna ainda mais gratificante quando o espectador assiste os vagabundos sendo tratados como lixo humano, bem ao estilo da Pink Violence, principalmente numa cena de tortura envolvendo um maçarico. Na verdade, a nossa heroína só consegue entrar em ação pra valer no final, já que, durante todo o processo da missão, Miki infiltra-se no bando e não ajuda em nada os policiais que estão prestes a encher os bandidos de chumbo.
Além da violência, há uma grande quantidade de nudez gratuita, quesito básico que não poderia faltar a este tipo de produção. Tralha que se aproveita de dotes femininos, situações perturbadoras como crueldade sexual e assassinatos com muita violência exagerada, mas com um tratamento visual acima da média, feita especialmente para os fãs de abobrinhas urgentes, mas muito divertida!
25.5.09
QUATRO NOITES COM ANNA (Cztery noce z Anna, 2008), de Jerzy Skolimowski
Estava com este filme aqui mofando há algum tempo, mas só agora resolvi colocar na agulha pra conferir, principalmente por ser o retorno, depois de quase vinte anos de abstinência cinematográfica, de um dos grandes monstros do cinema europeu, Jerzy Skolimowski. Sempre recomendo aos amigos ATO FINAL, filme do diretor que retrata a juventude de uma forma bastante expressiva, tanto como registro ideológico daquela época, quanto pelos fatores estéticos e cinematográficos. Um dos meus filmes favoritos da década de 70.
Mas vamos logo ao filme em questão, QUATRO NOITES COM ANNA, cujo título me lembra filme de sacanagem, mas não é nada disso (e não fiquem desanimados, ok?), trata-se de uma belíssima e melancólica estória de amor platônica e obsessiva, que na visão pessimista do diretor, literalmente dá de cara com o muro. Temos um sujeito meio excêntrico como protagonista que, por mais que a câmera de Jerzinho o acompanhe de perto, ficamos com a sensação de que nunca vamos entendê-lo. Mas não deve ser fácil trabalhar num crematório de hospital, tendo que manusear membros humanos decepados depois de tomar um café da manhã nutritivo; muito menos viver numa cidadezinha do interior polonês que mais parece um vilarejo da idade média. Lugar lindo, por sinal, típico ambiente que adoraria visitar, mas ficaria biruta se precisasse morar.
E pra piorar a situação do nosso amigo, ele vive atormentado pela lembrança de ter testemunhando um estupro do qual não fez nada para ajudar a vítima, a Anna do título. Mas acaba se apaixonando por ela, começa a persegui-la, praticar voyeurismo espiando pela janela, até que decide ir mais longe, invadindo a casa da arrombada, colocando sonífero em seu açúcar para visitá-la durante as noites. Aí não conto mais nada pra não estragar o desenrolar da trama, que é magistralmente conduzida pelo polonês, imprimindo um ritmo calmo por detrás de uma estética dark e bem carregada nos ambientes fechados, ou se aproveitando da beleza natural do cenário inóspito. Pois é, criaturas, Jerzinho voltou em grande forma!
Obs: Durante o hiato afastado do cinema, Skolimowski dedicou-se profissionalmente à pintura. Mais um bom exemplo de cineasta ligado às artes plásticas, que gerou um pequeno bate papo no último post sobre o tema.
Obs2: Todos já receberam essa informação, mas devo dizer que gostei da vitória do Haneke no festival de Cannes, que se encerrou neste domingo. O sujeito merecia este prêmio há muito tempo!
22.5.09
HUNGER (2008), de Steve McQueen
Primeiramente, será que não havia ninguém para avisar ao diretor que o nome que ele utiliza já pertenceu à outra pessoa ligada ao cinema? Aliás, um dos maiores atores americanos de sua geração, pra ser ainda mais puxa-saco do ator! Enfim, isso não importa. O que vale é o resultado bem interessante deste trabalho aqui.
HUNGER descreve as penosas condições carcerárias e as brutais repressões que sofriam os ativistas do IRA, no início dos anos 80, em uma luta para serem reconhecidos como presos políticos. Nisso tudo, o filme basicamente se estrutura em duas partes. A primeira, até um tanto didática, mas sem cair na mesmice de outros filmes do gênero, mostra o dia a dia na prisão. A segunda ganha uma força maior quando a narrativa se concentra em Bobby Sands (Michael Fassbender), um dos líderes ativistas, que resolve fazer greve de fome. Também não deixa de ser didático, mas acompanhar o processo do cara definhando é algo muito tenebroso...
É legal observar a relação entre o olhar do diretor sobre o seu material com a estética carregada impregnada na construção narrativa. Principalmente porque o número de diálogos no roteiro é mínimo. Mas em certos momentos, McQueen até exagera e acaba se perdendo numa espécie de busca por uma edificação visual sem muita força de significado, mas quando acerta, acaba rendendo belas seqüências, como o longo plano estático e esfumaçado com duas personagens dialogando. O sujeito tem um talento e tanto pra amadurecer. Este é seu primeiro filme e aponta como forte revelação do atual cinema britânico.
Obs: Hoje é sexta feira, dia de atualização do Dia da Fúria. Tem texto meu sobre REVOLVER, ainda do Sergio Sollima e um textinho do único giallo que o Sollima fez, O CÉREBRO DO MAL, escrito pelo Rogério Ferraz. Não percam!
20.5.09
DRUNKEN MASTER II (Jui Kuen II, 1994), de Liu Chia-Liang & Jackie Chan
Longe de Cannes, só nos resta ver um bom filme de porrada!!!
Dezesseis anos após ter estrelado DRUNKEN MASTER, Jackie Chan retornou com este DRUNKEN MASTER II, que possui ligação com o filme anterior apenas pela presença do ator e por ele utilizar a técnica dos oito deuses embriagados, mas são filmes totalmente independentes. E por mais que eu tenha rasgados elogios ao primeiro, este aqui consegue ser superior! É provavel que seja a última obra prima do cinema de artes marciais...
Corrijam-me se eu estiver errado, mas desde o início da década de 80 Jackie Chan não participava de uma produção de época. Mas o fato é que no começo dos anos 90, houve um ressurgimento dos filmes de kung fu históricos, como ERA UMA VEZ NA CHINA, por exemplo, estrelado por Jet Li, então era inevitável que Chan retornasse ao gênero que o tornou famoso, principalmente nesta espécie de sequencia de um dos seus principais trabalhos que o elevou ao estrelato.
E é muito bacana poder ver Jackie Chan fazendo papel de jovem molecão. Na verdade, ele já estava com 40 anos na época e seu personagem tem aproximadamente 20, mas isso não faz a menor diferença, e não apenas pela atuação e o modo de retratar a juventude, mas seu aspecto físico ajudava bastante. Chan era apenas oito anos mais novo que o ator que interpreta seu pai (Ti Lung) e uns dez anos a mais que atriz que fazia sua madrasta (Anita Mui)...
E é muito bacana poder ver Jackie Chan fazendo papel de jovem molecão. Na verdade, ele já estava com 40 anos na época e seu personagem tem aproximadamente 20, mas isso não faz a menor diferença, e não apenas pela atuação e o modo de retratar a juventude, mas seu aspecto físico ajudava bastante. Chan era apenas oito anos mais novo que o ator que interpreta seu pai (Ti Lung) e uns dez anos a mais que atriz que fazia sua madrasta (Anita Mui)...
Vamos à trama, que se passa no início do século passado, quando Fei Hong (Chan) está viajado com seu pai. Hong, que tem “encrenca” escrito na testa, arruma uma forma de esconder uma caixinha, contendo uma raiz medicinal, para não ter que pagar impostos ao passar pela alfândega. Por causa da semelhança entre duas caixinhas, um sujeito acaba pegando a de Fei Hong por engano, e este, que não quer saber de papo, parte pra cima do sujeito, e antes que você consiga dizer “papibaquígrafo”, a porrada já está comendo solta! Afinal, DRUNKEN MASTER II é um filme de Kung Fu! Ninguém iria querer que o Jackie Chan tentasse recuperar a caixinha com educação, não é?
Fei Hong recupera a caixa, mas a errada. Esta contém um selo imperial, e é o que o sujeito queria, na verdade, mas acabou ficando com a raiz. Muito bem, a trama parte daí para um assunto mais "sério", revelando um grupo de contrabandistas que vende tesouros e artefatos da China para os museus pelo mundo afora. Como Hong tem o selo imperial em mãos, acaba tornando-se alvo dos contrabandistas. Assim como a caixa trocada serviu para desencadear toda uma situação, numa outra cena, uma das mais memoráveis, os bandidos também confundem os objetos pessoais dentro da bolsa da sra. Wong, madrasta de Hong, com o famigerado selo, transformando o filme numa comédia de erros e gags que justifique as sequencias de luta!
Nesta em particular, Fei Hong persegue o bando, e começa a lutar sozinho contra vários meliantes, algo habitual para um cara como Jackie Chan. Mas a coisa fica ótima quando a sra. Wong começa a lhe fornecer bebidas alcoólicas permitindo que Hong libere a técnica Drunken Boxer! É bem conhecido o fato que a embriaguez deixa uma pessoa mais corajosa e solta, mas que também melhore seu Kung Fu, aí já não sei... pelo menos com Fei Hong funciona muito bem!
Aí que está a grande importância de ter assistido ao DRUNKEN MASTER e ser familiarizado com a técnica Drunken Boxer. Não que eu seja adepto ao procedimento, na verdade, a única vez que briguei na vida, lá pelos meus doze anos, apanhei feio, e não estava embriagado, mas depois eu conto esta história... Então, para quem não assistiu e ainda teve paciência de chegar até aqui em baixo nesta leitura nada agradável e cheia de spoilers, o Drunken Boxer é o estilo que o personagem de Jackie Chan utiliza, garantindo resistência à dor enquanto execulta movimentos como a de um bêbado, caso estivesse lutando. Portanto há uma série de tropeços e um balancear estranho, mas acabam dando certo na hora de desferir os golpes, seguido, é lógico, do nome do golpe dito em voz alta. E para se chegar a tal transcendência marcial, basta tomar uma caninha...
Bom, agora que já sabem tudo sobre esta arte, vamos as sequências de luta que são de tirar o fôlego. Duas, em especial, podem entrar para a história do cinema de artes marciais. A primeira é a que acontece no restaurante onde Fei Hong luta contra dezenas de vagabundos, usando machadinhas, enquanto nosso herói improvisa uma arma genial feita de bambu. A outra é a sequencia final, uma das mais magistrais exibições de proezas físicas que o cinema de porrada já proporcionou! A esta altura, o diretor Liu Chia-Liang (36th CHAMBER OF SHAOLIN) já havia chutado o balde e a direção estava toda nas mãos de Jackie Chan. Os vinte minutos finais foram filmados em quatro meses! Quem disse que Jackie Chan não era perfeccionista?
E mesmo que a trama não seja um padrão de originalidade, ela possui os McGuffin's necessários para a boa dose de ação corporal que come solta intensamente durante todo o filme, e ainda consegue desenvolver vários aspectos paralelos, como o orgulho chinês pelo seu patrimônio histórico, e se aprofundar bastante no personagem de Chan, que apesar de chutar muitas bundas, sua luta principal é encontrar aceitação aos olhos de seu pai. Pena que Jackie Chan nunca mais conseguiu atingir o mesmo nível de DRUNKEN MASTER II.
Agora sim!
18.5.09
The Expendables
17.5.09
Top 10 Cannes
Copiando a idéia de outros blogs, segue uma lista dos meus dez vecedores de Cannes favoritos (em ordem cronológica) e rapidamente comentados:
A DOCE VIDA (La Dolce Vita, 1960), de Federico Fellini: A nova Babilônia sob a visão de Fellini.
O LEOPARDO (Il Gattopardo, 1963), de Luchino Visconti: Um diretor da linhagem de Visconti não encontraria um universo mais adequado para filmar do que neste seu épico da decadência humana.
BLOW UP (1966), de Michelangelo Antonioni: Os italianos comandam. Aqui temos uma das maiores aulas de gramática cinematográfica da sétima arte.
A CONVERSAÇÃO (The Conversation, 1974), de Francis Ford Coppola: Exercício de direção dos mais expressivos embalado num thriller de espionagem sensacional.
TAXI DRIVER (1976), de Martin Scorsese: A obra prima suprema de Scorsese.
APOCALYPSE NOW (1979), de Francis Ford Coppola: Robert Duvall e o cheiro de napalm pela manhã já se tornou clássico absoluto. E ainda temos Martin Sheen, Dennis Hopper... Marlon Brando!!!
PARIS, TEXAS (1984), de Win Wenders: Um dos trabalhos mais inspirados de quando Wenders ainda era um bom diretor.
BARTON FINK (1991), de Joel & Ethan Coen: O que há de melhor nos Coens em toda sua essência.
PULP FICTION (1994), de Quentin Tarantino: Estabeleceu a nova era do cinema nos anos 90.
DANÇANDO NO ESCURO (Dancer in the Dark, 2000), de Lars Von Trier: Digam o que quiser, este filme carrega um poder que me desconserta a cada revisão.
16.5.09
EXÉRCITO DAS SOMBRAS (L'armée des ombres, 1969), de Jean-Pierre Melville
Belo filme. Também não deixa de ser uma das obras mais perturbadoras e melancólicas do diretor (entre os filmes que eu andei vendo ultimamente e postado aqui no blog). De todos estes que eu vi, ainda prefiro LE CERCLE ROUGE, mais pela minha identificação particular pelo cinema policial, porém os dois ficam no páreo de igual para igual em excelência.
A trama se passa durante a Segunda Guerra Mundial e serve de pano de fundo para que o diretor trabalhe o estado de espírito de alguns membros da resistência francesa, principalmente um de seus líderes, interpretado por Lino Ventura, que vai gradualmente descobrindo que ele e seus companheiros devem trair a sua humanidade em prol de seus ideais, embora no final, os seus esforços são essencialmente inúteis como benefício próprio. O modo com que o diretor opera o psicológico dos personagens, trabalhando o medo, a dor, o conflito, a relação com a morte e o fato de se tornarem verdadeiras sombras, gera vários momentos incríveis. A cena onde os sujeitos discutem como vão apagar o traidor, sendo que o próprio se encontra no mesmo local, ouvindo tudo angustiado, é sensacional.
Os pontos de contatos com o cinema de Bresson não ficam tão evidente aqui, provavelmente porque fosse impossível para o diretor tratar do tema sem que colocasse uma carga emotiva, já que o próprio Melville fora membro da resistência (mas o roteiro é uma adaptação de um romance de Joseph Kessel, não tão pessimista quanto o filme) e O EXÉRCITO DAS SOMBRAS talvez seja seu filme mais pessoal. Além de Ventura, todo o elenco é de primeira, com destaque para a grande participação de Simone Signoret, já bastante enrugada aqui, mas com muito carisma. Acho que para esta espécie exploração da filmografia do Melville ficar completa, vou assistir a LE SAMOURAI pra ver como se sai numa revisão...
15.5.09
James Mason
Ator sensacional, estaria completando 100 anos hoje se fosse da mesma raça que o Manoel de Oliveira...
Perfeita homenagem a ele pode ser vista aqui.
obs: Hoje é dia de atualização no Dia da Fúria, dando sequencia ainda no Sergio Sollima! Tem texto do Herax e Otávio sobre CORRE HOMEM CORRE e Leandro Caraça falando de CIDADE VIOLENTA! Imperdível.
14.5.09
James Cagney em dose dupla!
O Daniel (now, just Daniel) vivia falando pra eu assistir aos filmes desse baixinho impertinente. Então, lá fui eu...
O primeiro é INIMIGO PÚBLICO (Public Enemy, 1931), do diretor William A. Wellman, que foi um verdadeiro mestre do cinema americano hoje pouco lembrado, infelizmente. Dirigiu ASAS, primeiro vencedor do Oscar de melhor filme, e um dos westerns mais admiráveis que existe, CONSCIÊNCIAS MORTAS, com Henry Fonda. Mas voltado ao que interessa no momento, INIMIGO PÚBLICO é um marco dentro do gangster movie e é difícil saber o que seria de um Scorsese sem ele. Claro que tivemos, no mesmo período, vários exemplares que serviram de base para solidificar o subgênero, mas a influência deste aqui é inegável.
O filme se resume em contar a vida de Tom Powers (Cagney), sujeito que desde a infância é um problema para a lei. Quando adulto, torna-se um gangster com moral, dinheiro e mulheres. Aliás, muito boa a cena que Cagney esfrega uma laranja na cara de uma senhorita durante um café da manhã (foto aí em cima), parece que causou um reboliço nas feministas da época, mas a cena é genial! De uma forma geral, é um filme cuja importância releva o fato de que o filme não envelheceu tão bem, e claro, a presença de cagney é brilhante em todos os momentos e abonaria qualquer defeito do filme. Belíssimo clássico.
ANJOS DE CARA SUJA (Angels With Dirty Faces, 1938) não possui o mesmo valor histórico do anterior, mas foi o que eu apreciei mais. A direção é por conta de Michael Curtiz, que poucos anos depois fez CASABLANCA. O filme é mais amarrado, o roteiro é bem elaborado, possui uma boa dose de ação e, assistindo hoje, desce muito melhor. Inicia com uma certa semelhança a INIMIGO PÚBLICO, mostrando o personagem de Cagney, Rocky Sullivan, ainda jovem até se tornar um gangster de mão cheia. Em ambos os filmes, há um parceiro inseparável que o acompanha de maneiras diferentes. Neste aqui, interpretado por Pat O’Brien, o sujeito toma um caminho oposto ao protagonista e acaba virando um padre, contraponto interessante. E ainda temos Humphrey Bogart fazendo o papel de um advogado inescrupuloso, ainda canastrão, mas dando um charme a mais no filme. James Cagney está igualmente intenso e explosivo. E que final magnífico!
Realmente o baixinho merece a fama que tem de ser um dos grandes atores que já passou por Hollywood, sem dúvida alguma. A maneira como se impõe em cena coloca qualquer ator, por mais talentoso que fosse, ao chão com muita facilidade. Sensacional. Ainda devo ver nos próximos dias WHITE HEAT, do Raoul Walsh, que o mesmo Daniel afirma ser o melhor Cagney e o melhor Walsh. Veremos.
13.5.09
INFERNO NO PACÍFICO (Hell in the Pacific, 1968), de John Boorman
Não sei justificar porque enrolei tanto pra assistir a este filme tão obrigatório na minha lista de pendências. Talvez por negligência mesmo, mas a verdade é que o Lee Marvin é o meu ator favorito, então quem já viu INFERNO NO PACÍFICO deve saber que era praticamente uma questão de honra conferir este aqui.
Quem ainda não conhece o filme, vai ter uma boa referencia se já tiver assistido o clássico da sessão da tarde, INIMIGO MEU, estrelado por Dennis Quaid e Louis Gossett Jr, dirigido por Wolfgang Petersen em tempos áureos e inspirados. Agora, quem não conhece nenhum dos dois, pode mudar de área, vá ler um livro, jogar video game, etc, porque cinema não é pra você mesmo!
Mas se ainda quiser continuar a ler o texto, tudo bem, então vamos a história: Já perto do fim da Segunda Guerra Mundial, um piloto norte americano (Marvin) e um oficial japonês (Toshiro Mifune), acabam presos numa pequena ilha deserta. Espero que aqueles que não conheciam ambos os filmes – e mesmo assim insistiram em continuar lendo – tenham pelo menos uma noção de história pra saber que soldados americanos e japoneses eram inimigos mortais neste período, então já dá pra sacar qual é a do filme.
Principalmente porque eu não tenho muito mais a acrescentar sobre a trama sem estragar o prazer de ver pela primeira vez, ainda mais que INFERNO NO PACÍFICO, tirando o básico do plot, não tem nada a ver com INIMIGO MEU. Não esperem aqui naves espaciais, equipamentos futuristas e nem o Toshiro Mifune ficar grávido... seria no mínimo, ridículo. Além do mais, o número de diálogos é risível e os únicos seres humanos que veremos em cena são os dois personagens citados.
Lee Marvin, como sempre, está perfeito, expressivo e com muita presença, vivendo o americano que confia demais na esperteza pra conseguir as coisas, mas não possui os conhecimentos básicos do manual de sobrevivência para casos do tipo, então, a principio, passa fome e sede, enquanto o "colega" japonês sabe pescar e arranja água a vontade. E vale destacar o desempenho de Mifune, como não? O sujeito foi um dos maiores atores orientais, trabalhando em vários clássicos de Akira Kurosawa, o que não é pouco. É impossível dizer quem está melhor por aqui e o poder do filme concentra-se justamente na atuação dos dois indivíduos.
Mas por mais que o filme necessite da expressividade corporal dos atores, John Boorman nunca deixa a sua direção pender para um tom teatral. O roteiro, liberto de diálogos, se resume em situações puramente visuais, e um diretor do calibre de Boorman não iria desperdiçar a oportunidade de dar uma aula de linguagem cinematográfica. A fotografia é belíssima e o uso do som também é uma coisa de louco. No final das contas, temos belo filme de aventura, reflexivo sobre as diferenças de costumes e culturas, que é um tema já esgotado hoje em dia, mas muito bem trabalhado pelo diretor naquela época.
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