29.6.09

TRANSFORMERS - A VINGANÇA DOS DERROTADOS (Transformers: Revenge of the Fallen, 2009), de Michael Bay


TRANSFORMERS 2 é um caso meio estranho. Até agora eu não consegui definir realmente se é um bom filme ou se é tão ruim quanto a maioria anda dizendo. O filme tem tantas falhas, 2h30m de excessos e situações ridículas, é claramente inferior e já não possui o impacto do primeiro. Mas eu me diverti tanto com a bagunça que aqueles robôs fazem destruindo tudo pela frente que acabei deixando de notar os vários problemas o filme.  Não sei se eu estou ficando tolerante demais para este tipo de produção, mas o fato é que o conjunto dos dados visuais/auditivos/sensoriais  teve um efeito positivo sobre minha percepção, independente da estupidez que é o filme.

Enfim, TRANSFORMERS 2 é o típico filme de verão (americano) dos últimos anos, com a característica habitual de ser consumível instantaneamente e logo depois descartado. Se for parar para pensar no que está vendo, é preferível assistir a um filme do Carpenter, Argento, Verhoeven, Ferrara, De Palma e não Michael Bay, pelo amor de Deus! Então desligue o cérebro e relaxe um pouco com esta masturbação visual sem sentido e tremendamente divertida, cuja única pretensão é fazer coisas explodirem freneticamente e robôs caindo na porrada!

ATÉ O ÚLTIMO DISPARO (99 and 44/100% Dead, 1974), de John Frankenheimer

Frankenheimer já era um diretor com uma carreira considerável nos Estados Unidos quando realizou ATÉ O ÚLTIMO DISPARO, um filme que rompe totalmente com a construção clássica de vários trabalhos anteriores, mas de uma maneira meio que extravagante demais ou, dependendo do ponto de vista, um filme de vanguarda, muito à frente de seu tempo (e é como eu prefiro enxergá-lo). O problema é que nem a crítica nem o público se interessaram na época e o filme acabou sendo esquecido. Mesmo assim, Frankenheimer prosseguiu em frente com um aspecto mais solto, influenciado pelos jovens diretores que estavam modificando de vez o cinema americano nos anos 60 e 70.

Seu trabalho seguinte, OPERAÇÃO FRANÇA II já demonstra claramente isso, mas nada se compara ao estilo bizarro deste aqui, uma mistura de Roy Liechtenstein com Chuck Jones numa trama de guerra de gangsteres, tiroteios estilizados, um vilão com vários apetrechos no lugar da mão, um cemitério aquático cheio de corpos com os pés presos em blocos de concreto, trilha sonora espertinha e Richard Harris como o protagonista anti-herói que parece ter saído de um quadrinho. Preciosidade que merece uma redescoberta urgentemente.

24.6.09

O QUARTO HOMEM (De Vierde Man, 1983), de Paul Verhoeven

Já perceberam que deixei de lado a peregrinação pelo cinema do Jean Pierre Melville que estava fazendo todo empolgado há um mês atrás? Meio sem querer, tornou-se mais interessante tratar da fase européia do Verhoeven. O QUARTO HOMEM foi o último filme rodado em seu país natal (repito o que escrevi no texto abaixo: depois de duas décadas filmando nos Estados Unidos ele retornou para Holanda e dirigiu A ESPIÃ). Uma cambada comentou no último post que CONQUISTA SANGRENTA é a obra prima do diretor, não querendo ser o diferentão, mas eu gostei mais deste aqui. Aliás, a obra prima do Verhoeven, na minha opinião, ainda é O VINGADOR DO FUTURO! Yeah!

A trama de O QUARTO HOMEM gira em torno de Gerard (Jeroen Krabbé), um escritor alcoólatra bichona, que acaba se envolvendo sexualmente com Christine (Renée Soutendijk) uma loira magrela e ricaça, que segundo o próprio Gerard “parece um rapazinho de dezessete anos” (ou algo assim). Mas o que segura mesmo o romance entre os dois é que o sujeito se apaixona pelo amante da moça, Herman (Thom Hoffman) e quer “arrancar as pregas” do mancebo a qualquer custo. Enfim, mas as coisas começam a ficar estranhas quando, aos poucos, ele descobre que Christine já foi casada três vezes e todos seus maridos morreram em acidentes pouco comuns, e desconfia que possa ser a quarta vítima.

O que mais me impressiona no filme é a forma na qual Verhoeven estrutura a narrativa manuseando um quebra cabeça de simbologias com os devaneios do protagonista fazendo ligação com futuros enventos planejados pelo roteiro. O diretor trabalha perfeitamente com a alegoria dos sonhos e ilusões remetendo a um surrealismo de Buñuel ou Jodorowsky com um poder de imagem magnífico, principalmente quando se trata de elementos sacros. E, ainda, é curioso ver como Verhoeven utiliza-se do suspense psicológico desde o inicio definindo um tom que aparentemente, para o espectador que desconhece a trama, não faz sentido algum, mas calmamente vai perturbando e preparando o terreno para as descobertas e para um final que arrebata e confunde ao invés de entregar um desfecho cheio de explicações.

Dá para perceber pelas imagens acima que se trata de um grande filme desse holandês maluco e muito superior ao seu primo distante que o próprio Verhoeven dirigiu, INSTINTO SELVAGEM, que também é ótimo. Como eu disse nos comentários do ultimo post, a única coisa ruim que o holandês filmou foram os 15 minutos finais de O HOMEM SEM SOMBRA. O resto é maestria!

22.6.09

CONQUISTA SANGRENTA (Flesh+Blood, 1985), de Paul Verhoeven

Último filme do nosso prezado holandês doidão realizado na Europa antes de embarcar para os Estados Unidos, mas já rodado com dinheiro americano e falado em inglês (só depois de duas décadas ele voltaria ao seu país natal e realizaria A ESPIÃ). CONQUISTA SANGRENTA é uma aventura que se passa num ambiente medieval carregado de obsessões do diretor, ou seja, muita violência e sexo! O que é essencial aprender sobre Verhoeven é o seguinte: não importa o material, gênero, país em que trabalhe, tire as crianças da sala na hora de assistir a qualquer filme do sujeito!

A trama gira em torno de um grupo de mercenários rufiões, liderados por Martin (Rutger Hauer). Traído por um nobre, o bando seqüestra a donzela Agnes (Jennifer Jason Leigh), prometida de Steven (Tom Burlinson), filho do tal fidalgo, que tenta fazer de tudo para ter sua amada de volta. Apesar do ambiente medieval, o filme transcorre no ano de 1501, ou seja, num período de transição para a Era Moderna e o filme deixa esse detalhe bem evidente com o personagem de Steven, que é metido a homem da ciência e tenta criar invenções bélicas mirabolantes para recuperar Agnes, que já deixou de ser donzela há muito tempo nas mãos de Martin.

É curioso notar como Verhoeven consegue colocar o grupo de bárbaros mercenários, proxenetas, saqueadores, estupradores, homossexuais e prostitutas como os “bonzinhos” carismáticos da estória, enquanto o pobre moço perdido de amor é retratado como um vilão. No meio disso tudo, Agnes, uma personagem deveras ambígua. Gosta de pegar na espada de Martin, mas alimenta as esperanças de Steven. Aliás, J.J. Leigh está sensacional em seu desempenho e bastante desinibida. A recriação de época também merece destaque com os personagens sujos em ambientações igualmente imundas e insólitas, como na cena em que Agnes se encontra com Steven num cenário perfeito para iniciar um belo romance: debaixo de dois corpos putrefatos pendurados numa árvore...

21.6.09

Novo layout

Uma pequena mudança no layout do blog. Já estava cansado daquele verdinho sem graça... vou adotar este preto claustrofóbico por uns tempos.

17.6.09

MICKEY ONE (1965), de Arthur Penn


UAU! Confesso que minhas espectativas estavam bem altas, afinal, temos direção de Athur Penn e Warren Beatty encabeçando o elenco (e isso é, basicamente, tudo que eu sabia sobre o filme), mas não esperava algo tão sensacional! O que me mais me surpreendeu é que MICKEY ONE rompe com a linha do tradicional americano e realiza um legítimo exemplar da Nouvelle Vague em toda a sua quintessência. É cinema marginal com muita liberdade criativa, delírios visuais, frescor narrativo e trilha sonora jazzística frenética, realizado totalmente nos Estados Unidos na metade dos anos 60!

Eu já havia apontado no meu texto sobre BONNIE & CLYDE, do mesmo diretor, que logo no início, quando Faye Dunaway se apresenta em cena, Penn presta uma pequena ode à Nouvelle Vague, obviamente inspirado pelo movimento francês. Mal sabia eu, ao me deparar com MICKEY ONE, que o diretor já havia realizado esta pequena obra prima totalmente construída às bases do cinema desenvolvido por Godard, Truffaut, Chabrol e sua turma.

Ao que parece, a produção do filme não está ligada a qualquer grande estúdio e foi realizado com o dinheiro do sucesso anterior do cineasta, O MILAGRE DE ANNIE SULLIVAN, segundo trabalho de Arthur Penn na direção. A trama gira em torno do personagem título, interpretado magnificamente pelo Warren Beatty – que se encaixou com perfeição ao estilo solto e inovador da linguagem nada convencional para o padrão americano da época.

A trama envolve gangsters e o submundo do crime, mas tudo isso fica em segundo plano, deixando apenas transparecer a figura do personagem de Mickey One, um comediante de cabaré que foge de sua cidade com medo de ser apagado após cometer alguns deslizes na organização em que trabalhava. Instalado nos subúrbios de Chicago, Mickey forma ao seu redor uma série de situações emblemáticas e personagens bizarros que mais parecem saídos de um sonho ou de uma viagem alucinatória para azucrinar a paranóia do protagonista.

Mas nada disso soa experimental nas mãos de Arthur Penn, que parece ter sob controle todos os elementos, por mais surrealísticos que sejam. O cinema deste diretor nunca retrocedeu, aparentemente. Além deste aqui, eu assisti a BONNIE & CLYDE e CAÇADA HUMANA, que são dois filmaços e de grande importância para as mudanças cinematográficas que ocorreram no cinema americano no fim dos anos 60. Mas creio que o diretor nunca tenha conseguido chegar novamente ao resultado tão formidável de MICKEY ONE, a de um cinema tão liberto, algo que poucos diretores americanos tiveram a proeza na época.

THIRST - poster

15.6.09

SPETTERS (1980), de Paul Verhoeven

Não faz nem uma semana, o Leandro Caraça postou em seu blog uma curiosidade a respeito de uma possível contratação do Verhoeven para dirigir um dos episódios de STAR WARS no início dos anos 80. Idéia que não foi pra frente, claro, logo depois que George Lucas assistiu a SPETTERS, este ótimo filme do holandês maluco que eu também vi por esses dias.

O que Verhoeven faz em SPETTERS é uma grande sacada óbvia, algo que se ele não fizesse, outros fariam (e devem ter feito, eu que não estou me lembrando de ninguém agora), que é pegar um tema americano tão batido, como a juventude e suas possibilidades, e transformá-lo num filme provocativo, um belo soco no estômago muito bem dado. Imaginem aqueles filmes adolescentes do rapaz tentando perder a virgindade, mas com um pessimismo desenfreado, cenas de estupro homossexual e sexo explícito. É algo nesse nível.

Por isso não vamos culpar o pobre George Lucas por ter descartado o sujeito. Ele deve ter sentido de verdade o murro e não queria algo assim na sua preciosa série de ficção científica. Mas nós, fãs do holandês, sabemos como esta história terminou. Verhoeven atravessou o Atlântico e realizou ROBOCOP, que é muito melhor que todos os STAR WARS juntos. Que me perdoem os nerds de plantão, que se fantasiaram de Yoda para conferir no cinema os últimos filmes da saga, mas essa é a verdade.

Voltando ao SPETTERS, o filme trata de um grupo de três mancebos holandeses tipicamente guiados, ainda, pelos desejos imaturos de uma juventude estúpida (como todos nós em alguma fase das nossas vidas... se bem que alguns continuaram), só pensam em suas motocicletas e em faturar mulheres. A trama transcorre numa pequena cidade holandesa e até lembra um filme do já citado George Lucas, AMERICAN GRAFFITTI, só que com aqueles elementos “barra pesada” que eu disse ali em cima, e um tratamento muito mais realista que o “Jorginho”, sequer, sabe como fazer.

Este realismo confere ao filme uma autenticidade tremenda da visão de seu diretor, que tenta sempre imprimir um tom amargo e brutal, fruto, talvez, de sua própria visão pessimista pela vida. Ainda não conheço a fundo a fase holandesa do Verhoeven, mas recomendo SPETTERS para sentir o baque que este individuo parece ter o prazer de provocar.

14.6.09

Top 10 STALLONE

Atendendo ao pedido do Daniell Oliveira feito nos comentários do último post. Coloquei apenas os filmes que eu já vi (óbvio) e aqueles que o Stallone é protagonista ou tem uma participação considerável. O top é formado de acordo com os melhores filmes de uma forma geral e não considerando apenas o desempeho do ator, e, claro, segundo meu gosto pessoal. Podem discutir à vontade:

1. RAMBO: FIRST BLOOD (1982), de Ted Kotcheff
2. RAMBO IV (2008), de Sylvester Stallone
3. ROCKY (1976), de John G. Avildsen
4. COP LAND (1997), de James Mangold
5. CONDENAÇÃO BRUTAL (Lock Up, 1989), de John Flynn
6. ROCKY BALBOA (2006), de Sylvester Stallone
7. COBRA (1986), de George P. Cosmatos
8. O DEMOLIDOR (Demolition Man, 1993), de Marco Brambilla
9. DEATH RACE 2000 (1975), de Paul Bartel
10. RISCO TOTAL (Cliffhanger, 1993), de Renny Harlin

12.6.09

Ainda sobre o velho Carpinteiro...

Filmografia em estrelinhas:

DARK STAR (1974) * * *
ASSAULT ON PRECINCT 13 (1976) * * * *
HALLOWEEN (1978) * * * *
THE FOG (1980) * * *
FUGA DE NOVA YORK (Escape from New York, 1981) * * * * *
O ENIGMA DO OUTRO MUNDO (The Thing, 1982) * * * * *
CHRISTINE (1983) * * *
STARMAN (1984) * * *
OS AVENTUREIROS DO BAIRRO PROIBIDO (Big Trouble in Little China, 1986) * * * *
PRÍNCIPE DAS TREVAS (Prince of Darkness, 1987) * * * *
ELES VIVEM (They Live, 1988) * * * * *
MEMÓRIAS DE UM HOMEM INVISÍVEL (Memoirs of a Invisible Man, 1992) * * *
BODY BAGS (1993), segmentos: GAS STATION * * *; HAIR * * *
À BEIRA DA LOUCURA (In the Mouth of Madness, 1994) * * * *
A CIDADE DOS AMALDIÇOADOS (Village of the Damned, 1995) * * * (Precisando urgentemente de uma revisão)
FUGA DE LOS ANGELES (Escape from L.A., 1996) * * * *
VAMPIRES (1998) * * *
FANTASMAS DE MARTE (Ghosts of Mars, 2001) * * *
MASTERS OF HORROR - CIGARETTE BRURNS (2005) * * * *
MASTERS OF HORROR - PRO-LIFE (2006) * *

CHRISTINE (1983), de John Carpenter

John Carpenter é um dos meus diretores favoritos, mas o único filme (para cinema) do homem que eu ainda não havia visto inteiro (apenas algumas partes na tv há anos) era esta ótima adaptação do livro de Stephen King sobre o carro (um Plymouth Fury 1958) possuído por um espírito maligno. Considerando a carreira do diretor, CHRISTINE é um filme menor, sem dúvida. Não vamos compará-lo com um THE THING ou FUGA DE NOVA YORK, mas ainda assim é muito divertido, e funciona perfeitamente como uma pequena obra de terror sem grandes pretensões. Entretanto, é inegável a força visual de Carpenter, com mão firme para orquestrar som e imagem de maneira única. Muita gente reclama que os personagens não são explorados ou que o diretor se perde na escolha do foco narrativo quando ocorre a transformação do nerd (o ótimo Keith Gordon) num moço arrogante e apaixonado pelo carro amaldiçoado. Mas é preciso muita má vontade para que esses detalhes estraguem o prazer de ver o filme.

11.6.09

VAMPYROS LESBOS (1971), de Jess Franco


Em 1971, o prolífico diretor Jess Franco realizou a sua versão do Conde Drácula, com Christopher Lee interpretando mais uma vez o papel do famoso vampiro. Naquele mesmo ano, não satisfeito em apenas contar a tradicional estória do célebre personagem, que, aliás, já estava bem desgastada com as tantas versões para o cinema, Franco resolveu botar a cuca para trabalhar e subverteu totalmente o livro de Stoker dando uma roupagem que tivesse mais relação com seu estilo cinematográfico e suas obsessões. Em outras palavras, muita sacanagem, nudez gratuita e psicodelia visual! Estamos falando de VAMPYROS LESBOS!

Neste clássico sexploitation, a estória transcorre no tempo presente (inicio da década de setenta, para ser mais exato), o obscuro conde Drácula se transforma em uma belíssima condessa, interpretada pela musa espanhola Soledad Miranda, que na época do lançamento do filme, já havia batido as botas, ainda muito nova, num acidente de carro. Renfield dá lugar a uma histérica senhorita num manicômio (Heidrun Kussin), o doutor/caçador de vampiros Van Helsing, não passa de um médico sem muita expressão (a não ser por lembrar um bocado o James Stewart bem velho), e por aí vai...

A trama, eu imagino, quase todos conhecem, mas Franco deu uma adaptada considerável ao seu gosto peculiar: Linda (Ewa Strömberg) e seu namorado Omar (Andrés Monales, aka Victor Feldman) vão a um Night Club onde acontece a apresentação erótica de uma misteriosa mulher, algo que impressiona extremamente a moça, que passa a ter pesadelos com a atriz performática.

Após alguns dias, Linda, que é, óbvio, agente imobiliária, vai a uma ilha à trabalho para acertar a papelada de uma compra de propriedade com a Condessa Nadine (Miranda), que, vejam só, se trata da mesma mulher dos sonhos! Que surpresa... Bom, o que Linda não sabe, mas o espectador mais espertinho já matou, é que Nadine é uma vampira. A condessa seduz Linda, as duas colocam as aranhas para brigar, e terminam com a mordida no pescoço.

A trama prossegue por este caminho, sempre abusando da nudez de suas atrizes, que é algo positivo, mas sempre num ritmo lento, quase parando, e a câmera do Franco em constantes zoons sem sentido e cansativos, mas que acabaram fazendo parte de seu estilo de filmar. Algumas cenas são muito bem elaboradas visualmente, como as apresentações no Club, com a Miranda exibindo toda graça e beleza, e ajuda um pouco a compensar as terríveis atuações, diálogos medíocres e a dificuldade de empurrar a estória cheia de furos e erros desta versão fajuta que o Franco criou, apenas para mostrar umas mulheres nuas se esfregando.

E deixo isso bem claro, porque VAMPYROS LESBOS é o típico filme para os fãs do sujeito que sabem enxergar que até uma tralha velha como esta aqui possui seu valor artístico. O próprio Franco é um diretor muito mais odiado que admirado, e isso é uma pena, porque entre seus duzentos filmes, dá para encontrar alguns realmente muito bons! E pelo amor de Deus, com duzentos filmes tem que ter algo que presta!

10.6.09

MILANO CALIBRO 9 (1972), de Fernando Di Leo

Como eu havia dito no post anterior, assisti, no fim de semana, a este espetáculo regido pelo Fernando Di Leo. MILANO CALIBRO 9 é um filme poderosíssimo, provavelmente o meu poliziesco favorito, e já nas cenas de abertura sente-se o peso da pancada: grupo de jagunço da máfia espancando, cortando e explodindo três indivíduos que participaram de uma transação de negócios cujo dinheiro desaparece misteriosamente. Onde foi parar a grana? Ninguém sabe. Mas suspeita-se que esteja com Ugo Piazza (Gastone Moschin), um sujeito que acabou de sair da prisão e jura pela sua mãe morta que não escondeu a mufunfa. A trama gira em torno deste pobre homem que quer apenas levar a vida na tranqüilidade, mas tem de prestar satisfações a um delegado (Frank Wolff) – que quer utilizá-lo como isca para atrair a bandidagem – e com o poderoso chefão mafioso (o americano Lionel Stander) – que só não o mata porque acredita piamente que o cabra escondeu o boró. E isso é mais que suficiente para que Di Leo construa seu pequeno épico poliziesco. Moschin está muito bem no papel do herói cheio de ambiguidade, mas quem rouba a cena é Mario Adorf, que lembra o Bruce Campbell um pouco mais gordo, ator impressionante que destrói num desempenho muito inspirado. Ele vive Rocco, o braço direito do chefão americano (que aliás, no filme é chamado de “Americano” mesmo). Fãs do cinema popular italiano ainda vão reconhecer várias figuras marcantes, como por exemplo o francês Philippe Leroy e claro, Barbara Bouchet, uma das mulheres mais belas que já pisou em frente às câmeras em toda a história do cinema! Ela vive o par romântico do protagonista, demonstrando que apesar da aparência de brutamonte cabeça dura, o sujeito é bem esperto. Ou não...

8.6.09

O EXTERMINADOR DO FUTURO: A SALVAÇÃO (Terminator Salvation, 2009), de McG

Uaaaaah! Que vontade de escrever sobre este filme. Queria mesmo é falar sobre MILANO CALIBRO 9, do Fernando Di Leo, um Poliziottesco excelente que eu vi neste fim de semana e devo escrever alguma coisa sobre ele durante os próximos dias. Mas enfim, a preguiça de escrever sobre O EXTERMINADOR DO FUTURO: A SALVAÇÃO não é nem pela qualidade, porque como filme de ação até compensa. Eu é que não tenho muito a acrescentar sobre tudo que já foi dito por aí.

Mas, vamos lá. Comparando com os outros filmes da série, este novo capítulo não chega nem no dedinho do pé dos dois primeiros filmes do James Cameron. Mas é superior ao terceiro, de 2003, dirigido pelo Jonathan Mostow. Contextualizando ainda mais no painel dos caça níqueis dos últimos anos, O EXTERMINADOR DO FUTURO: A SALVAÇÃO não decepciona. E entre os blockbusters que eu vi este ano, fica atrás apenas do novo STAR TREK.

É óbvio que tudo isso é muito relativo. Vai ter gente achando um lixo total, mas o fato é que não é muito difícil considerar um filme como este entre os melhores filmes de ação do ano, levando em conta que 90 % das produções com fins lucrativos são extremamente medíocres. Vai da paciência, tolerância e expectativa de cada um. Eu, por exemplo, estava com a minha bem baixa porque detesto este McG. Mas deixe-me parar de divagar por aqui e começar a falar do filme, antes que o texto fique maior que o necessário.

O EXTERMINADOR DO FUTURO: A SALVAÇÃO se passa no futuro apocalíptico previstos nos filmes anteriores, onde John Connor (Christian Bale) é um dos principais nomes da resistência dos humanos contra as máquinas que dominam o mundo. O filme explora o drama de Connor que, ouvindo as fitas deixadas por sua mãe, Sarah Connor (na voz de Linda Hamilton), tenta encontrar Kyle Reese (Anton Yelchin) para enviá-lo ao passado para proteger sua mãe, o que se estabelece um conflito psicológico extremamente complexo, já que Connor tem consciência de que aquele rapaizinho é seu pai.

Brincadeira! O filme não explora drama e conflitos psicológicos coisa nenhuma! O roteiro trata destes pontos de uma maneira tão superficial quanto um quadro de Mondrian. Tudo apenas para justificar cenas movimentadas de ação.

Outro personagem chave na trama é Marcus Wright (Sam Worthington), sujeito que em 2003 foi executado por assassinato, mas doou seu corpo para um projeto experimental. Acaba acordando em 2018 cheio de surpresas pra moçada que assiste ao filme, e que eu não vou contar. Mas vale ressaltar que seu personagem é bem bacana e rouba o filme do Bale, e talvez por isso este último tenha ficado tão nervozinho nos sets de filmagens...

A verdade é que o filme se divide entre duas linhas narrativas. Uma do personagem Marcus, que acorda em pleno mundo devastado de 2018, e isso é bem legal. E outra com o Connor, que é onde o entrecho se perde um bocado, mostrando o sujeito testando uma arma para destruir as máquinas ou com aquela preocupação na cabeça de onde andará seu pai ainda tão mocinho e indefeso nesse mundo violento, o filme só consegue se achar nas cenas de ação mesmo, e aí não estou nem um pouco preocupado com a falta de foco, quero ver explosões e tiro!

E nisto, acho que não tenho do que reclamar. Além de ser uma constante, McG surpreende com a segurança em que filma este tipo de sequencia, contando com a ajuda, é claro, do bom uso dos efeitos especiais e um excepcional trabalho de som! A cena do helicóptero caindo no início é sensacional, seguido de uma luta ferrenha entre Connor e um exterminador partido ao meio, mas que ainda assim dá um trabalho danado para o herói. Outra sequencia magnífica é aquela em que Marcus, Kyle e a menininha muda tentam escapar das “motos exterminadoras”, numa referencia ótima a MAD MAX II.

O final não consegue manter o mesmo nível do restante, mas ainda assim guarda boas sacadas, como por exemplo o boneco perfeito em CGI do Arnold Schwarzenegger de 1984. Uma coisa impressionante que me colocou para refletir sobre essa possibilidade e o futuro do cinema de alto orçamento. Hoje em dia pode-se fazer um filme com o Bruce Lee. Imaginem um DESEJO DE MATAR 6 com o Charles Bronson! Já é possível, pelo menos visualmente...

Finalizando, todo o elenco está muito bem para um filme como este, não dá pra ficar analisando interpretações a fundo, mas temos participação de um ator que eu gosto muito, Michael Ironside. Gostei de vê-lo na telona. O roteiro utiliza alguns elementos e frases dos filmes anteriores e até a música do Guns N’ Roses, que faz parte da trilha do segundo capítulo, aliás, o melhor da série e um dos grandes filmes de ação que o cinema concebeu. O EXTERMINADOR DO FUTURO: A SALVAÇÃO pode não ser do mesmo nível, mas não afeta a integridade da saga.

3.6.09

COBRA (1986), de George P. Cosmatos

Escrever sobre um filme como COBRA pode ser uma perda de tempo – todo mundo já viu e já está careca de saber do que o filme se trata – mas como eu não estou tendo muito tempo pra ver a quantidade de filmes que eu gostaria (o último que eu vi foi justamente este aqui e já faz uns quatro ou cinco dias), vou tentar alguma coisa pra não deixar o blog paradão.

Além do mais, estamos falando de COBRA, sim, aquele filme que marcou a sua infância e a de muita gente que neste momento deve estar relembrando os tempos em que Stallone, Arnoldão, Van Damme e Steven Seagal (!) eram vistos semanalmente na TV aberta. E olha que eu nem preciso ir tão longe (também não sou tão velho, peguei o final dos anos 80 adiante e nesta época, estes caras aí foram os responsáveis pela minha formação em cinema de ação). Mas este tom nostálgico que envolve filmes e televisão eu deixo para o Leandro Caraça, que realmente consegue transmitir essa sensação com muito mais emoção em seu blog.

Para quem não sabe, Sylvester Stallone, inicialmente, seria o homem que daria vida ao policial Axel Foley em UM TIRA DA PESADA, de Martin Brest, tanto como protagonista quanto palpiteiro de roteiro, mas depois que o script acabou virando um banho de sangue, a Universal resolveu botar Stallone para enscanteio, contratando outros roteiristas e escalando Eddie Murphy que se consagrou justamente com este papel. A falecida, infelizmente, Cannon se interessou pelo material do “Garanhão Italiano” e começou a produzir, graças ao bom Deus, essa maravilha que hoje conhecemos.

Naquela época, Stallone não precisaria sair mendigando trabalho ou implorando para que algum estúdio comprasse seus roteiros. Ele já havia se firmado como um modelo de herói de ação dos anos oitenta desde RAMBO e o diretor do segundo filme da franquia, George P. Cosmatos, reuniu-se novamente com o ator pra realizar esta espécie de Rambo urbano, numa das minhas definições mais cretinas...

COBRA é um filme brutal e tem aquele tom fascista que compõe sua óbvia inspiração no filme de Don Siegel, DIRTY HARRY, com Clint Eastwood. A abertura é um delírio quando ouvimos a voz de Stallone relatando o número de assassinatos, estupros e etc por dia nos Estados Unidos, enquanto vira o trabuco em direção a câmera. Logo depois mostra um bando de motoqueiros que se reúne para ficar batucando com machados e outros objetos enquanto os créditos iniciais são apresentados.

Engraçado que no meio dos malucos batucando, eu reparei um tiozinho careca, usando um terno, segurando dois machados. Fiquei imaginando o porquê daquilo e que tipo de ser humano seria aquele de entrar num lugar desses vestido assim pra ficar batucando machados. Vai entender...

A primeira cena de COBRA mostra um psicopata adentrando um supermercado e fazendo todos os clientes de refém. A policia cerca o local, mas logo percebem que é preciso chamar o homem! Cobra chega em seu carro retrô, com óculos espelhados, luvas pretas, barba por fazer e mastigando um fósforo. Entra no supermercado com um ar totalmente cool, para na prateleira da cerveja e dá um gole. Em determinado momento, o bandido ameaça: “Vou explodir todo o lugar”, “Vá em frente, eu não faço compras aqui”, responde Cobra. Logo depois, outra pérola: “Você é a doença, eu sou a cura”. É uma ótima maneira de demonstrar o nível de pretensão esperado por aqui.

Aquele grupo de motoqueiros que eu citei ali em cima, do qual um dos membros é o tiozinho de blazer, na verdade, trata-se de uma seita que comete assassinatos que até agora não consegui entender os motivos. O filme não explica, mas apenas mulheres sozinhas, à noite, no escuro são assassinadas em prol da seita. Mas que seita é essa que mata mulheres indefesas? E pra que? Só se for uma seita gay com o objetivo de exterminar o sexo feminino. E quem diabos é aquele velhinho de terno batendo dois machados numa seita de motoqueiros??? Enfim, o roteiro é do Stallone, vamos relevar. O fato é que a história deve prosseguir e para isso, entra em cena a modelo fotográfica (a dinamarquesa Brigitte Nielsen) que testemunha um dos crimes e passa a ser alvo dos malfeitores. Cobra fica incumbido de proteger a moça dos malucos.

Mas isso também é só um pretexto pra cenas de ação, frases de efeito e muito suspense. Aliás, este é um tópico importante, porque para um filme de ação, as cenas em que “assassino principal” (Brian Thompson) tenta eliminar suas vítimas são de uma atmosfera intensa de terror e alguns elementos como luvas e objeto pontiagudos ajudam a reforçar o clima de giallo em determinados momentos. Só faltou mesmo sangue em abundância partindo dessas situações, detalhe que o filme resolve não mostrar.

Mas ainda temos muitas sequencias de ação como a perseguição de carro em alta velocidade, com Stallone em seu carro retrô, dando cavalo de pau no meio do transito pra poder atirar pra trás enquanto o carro realiza o giro completo e volta para a posição inicial sem diminuir a velocidade!

Assim como vários filme que acabam, de alguma forma, analisando a aplicação da lei de uma forma subvertida, COBRA, com o roteiro de Stallone, também faz a sua contribuição. Mas é um ponto que não se deve levar muito a sério por aqui, ou até deve. O ator/roteirista parece mais preocupado em criar uma figura que vomita frases como “nós os prendemos, os juízes os soltam”, sem que haja uma profundidade temática sobre o assunto, mas a falta de pretensão de Stallone às vezes é muito mais significativa do que milhares de exemplares com essa ambição.

Um dos momentos mais interessantes é no final, no confronto entre Cobra e o psicopata de Brian Thompson, que provoca o homem da lei dizendo que ele não pode matá-lo, mas quando for preso, será liberado, ou coisas do tipo. Claro que Stallone, em toda sua ética fascista, vai soltar uma frase de efeito como “Aqui é onde a lei termina... e inicia a minha”! Genial.

Sabemos que COBRA não é um filme perfeito e está longe de ser um dos melhores filmes ação ou policial dos anos 80 em termos de qualidade técnica. Mas com toda certeza você deve ter um lugarzinho especial dentro de você pra guardar a cobra. Eu não, eu guardo na prateleira, juntos com meus outros DVD’s!