Primeiro, uma confissão: da série HALLOWEEN original (e não essa bobagem do Rob Zombie, cujo segundo não me dei nem o trabalho de assistir ainda) os únicos filmes que realmente vi foram os dois primeiros. O do John Carpenter é uma belezura, puta aula de suspense, trabalho atmosférico sensacional, além da utilização magistral de vários elementos que serviram de base para toda uma cadeia de filmes de terror que brotou nos anos 80. Estou sempre revendo. Aliás, toda a obra do velho Carpinteiro deveria ser vista e revista incontáveis vezes...
A continuação de HALLOWEEN, até onde me lembro, foi um dos primeiros filmes de terror que assisti, antes até do que o original. Mas para um pirralho medroso isso não fez diferença alguma, borrei de medo de qualquer forma. Hoje, revendo depois de tanto tempo, continuo achando um bom filme, inferior ao primeiro, mas não deixa de possuir sua força dentro do gênero.
Escrito pelo próprio John Carpenter em parceria com a sua colaboradora, Debra Hill, HALLOWEEN II continua no mesmo ponto onde o primeiro filme termina. Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), depois de quase comer capim pela raiz nas mãos do louco varrido Michael Myers, vai parar num hospital praticamente deserto sobre o qual o filme transcorre como seu cenário principal. Enquanto isso, o Dr. Loomis (Donald Pleasence), que descarregou seu 38 em Myers, procura o corpo do sujeito, o qual simplesmente levantou, fugiu e desapareceu. O roteiro ainda aproveita para criar um laço familiar entre Myers e Laurie para botar mais lenha na fogueira.
Logo no início, seguimos os passos de Myers espreitando entre aquelas casinhas americanas sem muros. Essas sequências já apresentam o tom do filme, cheio de câmeras subjetivas e uma lentidão quase poética que faz todo sentido em relação ao seu assassino. Michael Myers é daqueles que nunca correm atrás de suas vítimas, deixando o espectador com os nervos à flor da pele com suas perseguições perturbadoras. Enquanto a criatura desesperada sai quebrando tudo pela frente numa correria desenfreada, Myers segue dando seus passinhos calmamente e, exceto os "mocinhos", sempre alcança o alvo onde menos se espera.
Uma das melhores cenas de HALLOWEEN II se caracteriza justamente pela situação acima (tirando o desfecho, claro), quando Laurie corre freneticamente pra não ter a carcaça perfurada e tem de esperar o elevador abrir a porta enquanto Myers vem tranquilo em sua direção. Se ele tivesse apertado os passos um pouquinho, teria cortado mais uma garganta para a sua coleção, mas não seria também uma cena magnífica de puro suspense que simboliza a essência de um dos grandes elementos do slasher movie.
Acho que elogiar a direção de Rick Rosenthal é um tanto equivocada. Não sou o mais indicado a falar sobre o assunto, mas li em alguns lugares que após várias discussões e muitas diferenças de opiniões, Carpenter meteu um pé na bunda de seu diretor e assumiu o posto. Não seria surpresa se ele tivesse dirigido a cena do elevador, mas realmente HALLOWEEN II tem muito de John Carpenter. Se foi mesmo o Rosenthal que dirigiu a maioria das cenas, meus sinceros elogios a ele. Fez um ótimo trabalho!
Só sei que em 2002, Rosenthal dirigiu HALLOWEEN: RESURRECTION, cuja cara não é nada promissora...
Jamie Lee Curtis retorna ao papel que praticamente a lançou no cinema, mas fica meio apagada, até porque sua personagem é uma moribunda na cama do hospital em grande parte do filme. Quem se destaca mesmo é o sempre genial Donald Pleasence em performance inspirada e muito participativo.
Em tempos de HALLOWEEN’s de Rob Zombie, SEXTA FEIRA 13, de Marcus Nispel, e outras tralhas pretenciosas que aparecem nos cinemas atualmente, fico com qualquer slasher menor dos anos 80. Agora que revi esta segunda parte da série iniciada pelo Carpenter, vou procurar assistir logo as partes seguintes que ainda não tive o prazer (ou desprazer) de conferir.
27.4.10
26.4.10
DINOSHARK - TEASER
Filme de mostro marinho, um tubarão pré-histórico causando o terror na moçada, produzido pelo mestre dos B Movies, Roger Corman, para o Sci Fi Channel.
25.4.10
THE SCARAB
Pelo teor do trailer abaixo, dá para notar que esta produção não é bem chegada aos padrões de qualidade aprovada pela crítica “séria” nem pelo grande público. No entanto, em tempos de superproduções milionárias de super heróis inspirados em quadrinhos (e que poucas vezes resultam em algo realmente interessante), quem curte uma boa tralha de baixíssimo orçamento poderá tirar algum proveito de AVENGING FORCE: THE SCARAB (2010).
Como podem ver, o filme definitivamente não estará cotado para a disputa do próximo Oscar (acho que nem no Framboesa ele teria chance), mas eu tenho uma fascinação obsessiva com este tipo de filme ruim e só descanso depois de ter visto com meus próprios olhos. Posso até me arrepender pelos 90 minutos perdidos, mas na maioria das vezes a diversão é garantida!
THE SCARAB terá lançamento discreto nos cinemas canadenses no próximo dia 26 de Abril (sim, amanhã, em plena segunda feira), terra natal do diretor Brett Kelly, realizador de algumas “pepitas” classe B nos últimos dez anos. O personagem título é baseado em quadrinhos criado nos anos 40.
THE SCARAB terá lançamento discreto nos cinemas canadenses no próximo dia 26 de Abril (sim, amanhã, em plena segunda feira), terra natal do diretor Brett Kelly, realizador de algumas “pepitas” classe B nos últimos dez anos. O personagem título é baseado em quadrinhos criado nos anos 40.
24.4.10
GARY SHERMAN EM DOSE DUPLA (OU MAIS UMA DA SÉRIE "TIRANDO O ATRASO")
Risquei dois trabalhos deste ótimo diretor da minha listinha de filmes (quem não tem uma?). Apesar de ser mais conhecido pela sua contribuição na década de 1980, foi no início dos anos 70 que o americano Gary Sherman estreou na direção comandando uma produção britânica, DEATH LINE (1972), bastante elogiado na época. Já em seu país natal, o filme foi distribuído pela AIP e rebatizado como RAW MEAT. Infelizmente teve pouca bilheteria e passou muito tempo esquecido pelo público. No Brasil chegou a ser lançado em VHS como METRÔ DA MORTE.
A trama envolve um casal americano em Londres, investigação policial de pessoas desaparecidas e o mito de uma colônia de canibais numa antiga área do metrô da capital inglesa. Tudo muito bem amarrado num roteiro instigante que conta com a presença de vários personagens interessantes, como o chefe da polícia interpretado pelo sempre fenomenal Donald Pleasence, cínico, sarcástico, impagável. Há também uma minúscula participação de Christopher Lee. Sua cena é tão pequena que dá a impressão de que ele devia estar passando pelos sets para dar um “alô” pra moçada e acabou convencido de fazer a ponta. Não deixa de ser curiosa.
Embora seja seu primeiro filme, Sherman marca DEATH LINE com um notável trabalho atmosférico e beleza visual grotesca realmente deslumbrante para os fãs de terror, com direito a vários longos planos que mostram detalhes de corpos esquartejados no covil dos canibais.
Segundo algumas entrevistas, nunca foi a intenção de Sherman se tornar um diretor de filmes de terror, tanto que logo após DEATH LINE ele tentou partir para romances dramáticos, mas ninguém queria comprar as idéias do mesmo cara que havia realizado tal filme de horror britânico. Seu nome já estava enraizado no gênero. No cargo de diretor, ficou sem trabalho o resto da década de 1970.
Em 1981, teve de render-se novamente ao terror e realizou DEAD & BURIED, que foi o outro trabalho de Gary Sherman que assisti recentemente. O filme, que no Brasil recebeu o título de OS MORTOS VIVOS, se passa numa pequena cidadezinha costeira americana e é uma inteligente releitura de filmes de zumbis e seitas misteriosas. Não é coincidência um dos roteiristas ser o Dan O’bannon... E os efeitos de maquiagem ficaram a cargo do genial Stan Winston.
Não temos grandes nomes reconhecidos pelo público no elenco, a não ser a pequena presença de Robert Englund, o eterno Freddy Krueger. Mas todos estão muito bem, principalmente James Farentino que vive o xerife da cidade.
A direção de Sherman é mais contida nesta sua segunda experiência, mas não deixa de ter imagens inesquecíveis. A cena da enfermeira sádica enfiando uma agulha no olho de um paciente que precisava ser eliminado é sensacional. Uma pena que algumas sequências noturnas sejam muito escuras, mas dá um charme atmosférico interessante. Até certa altura de DEAD & BURIED, embora eu estivesse gostando bastante, não conseguia enxergar porque se tornou cult entre alguns fãs do gênero, até que veio o plano final arrebatador e aí eu compreendi o porquê. Filmaço mais que obrigatório! Aliás, DEATH LINE também. É uma pena que Gary Sherman esteja sumido atualmente...
A trama envolve um casal americano em Londres, investigação policial de pessoas desaparecidas e o mito de uma colônia de canibais numa antiga área do metrô da capital inglesa. Tudo muito bem amarrado num roteiro instigante que conta com a presença de vários personagens interessantes, como o chefe da polícia interpretado pelo sempre fenomenal Donald Pleasence, cínico, sarcástico, impagável. Há também uma minúscula participação de Christopher Lee. Sua cena é tão pequena que dá a impressão de que ele devia estar passando pelos sets para dar um “alô” pra moçada e acabou convencido de fazer a ponta. Não deixa de ser curiosa.
Embora seja seu primeiro filme, Sherman marca DEATH LINE com um notável trabalho atmosférico e beleza visual grotesca realmente deslumbrante para os fãs de terror, com direito a vários longos planos que mostram detalhes de corpos esquartejados no covil dos canibais.
Segundo algumas entrevistas, nunca foi a intenção de Sherman se tornar um diretor de filmes de terror, tanto que logo após DEATH LINE ele tentou partir para romances dramáticos, mas ninguém queria comprar as idéias do mesmo cara que havia realizado tal filme de horror britânico. Seu nome já estava enraizado no gênero. No cargo de diretor, ficou sem trabalho o resto da década de 1970.
Em 1981, teve de render-se novamente ao terror e realizou DEAD & BURIED, que foi o outro trabalho de Gary Sherman que assisti recentemente. O filme, que no Brasil recebeu o título de OS MORTOS VIVOS, se passa numa pequena cidadezinha costeira americana e é uma inteligente releitura de filmes de zumbis e seitas misteriosas. Não é coincidência um dos roteiristas ser o Dan O’bannon... E os efeitos de maquiagem ficaram a cargo do genial Stan Winston.
Não temos grandes nomes reconhecidos pelo público no elenco, a não ser a pequena presença de Robert Englund, o eterno Freddy Krueger. Mas todos estão muito bem, principalmente James Farentino que vive o xerife da cidade.
A direção de Sherman é mais contida nesta sua segunda experiência, mas não deixa de ter imagens inesquecíveis. A cena da enfermeira sádica enfiando uma agulha no olho de um paciente que precisava ser eliminado é sensacional. Uma pena que algumas sequências noturnas sejam muito escuras, mas dá um charme atmosférico interessante. Até certa altura de DEAD & BURIED, embora eu estivesse gostando bastante, não conseguia enxergar porque se tornou cult entre alguns fãs do gênero, até que veio o plano final arrebatador e aí eu compreendi o porquê. Filmaço mais que obrigatório! Aliás, DEATH LINE também. É uma pena que Gary Sherman esteja sumido atualmente...
23.4.10
22.4.10
THE BUTCHER (2009)
Estava de olho nesse THE BUTCHER (2009) há algum tempo, lendo algumas críticas gringas de pessoas que compartilham o mesmo gosto que o meu. Foi lançado diretamente em DVD lá fora, não tenho idéia se estará um dia disponível nas nossas prateleiras, espero que sim. Mas foi o meu velho amigo Osvaldo Neto que deu o sinal verde dizendo que era realmente um filmaço. Como eu adoro produções modestas, especialmente de ação, que aproveitam (ou ressuscitam) alguns talentos esquecidos e marginalizados pelos grandes estúdios, como é o caso de Eric Roberts e outras figuras simpáticas que surgem por aqui, fui correndo conferir.
Visto e aprovado, posso dizer que realmente trata-se de um puta filme de ação old school casca grossa, sem firulas de diretores moderninhos que fazem gracinha ao invés de cinema de verdade! E Eric Roberts é um monstro! O sujeito está em plena forma encarnando um ex-boxeador que agora trabalha fazendo o serviço sujo para a máfia. Jogador obsessivo, apreciador de um inebriante, anacrônico e totalmente cool, seu personagem acaba tendo que resolver à base de chumbo grosso uns probleminhas que arranjou com seu próprio chefe, Murdoch (o também subestimado Robert Davi). O roteiro é bom, embora não traga muitas novidades e demora um pouco para engrenar. Mas trabalha bem os clichês do gênero e possui personagens interessantes. O elenco é ótimo: Além de Roberts e Davi, temos Keith David, Geoffrey Lewis, Michael Ironside, Vernon Wells, Paul Dillon, Jerry Trimble, alguns com pequenas participações, mas muito bem aproveitados.
É provável que o britânico Jesse V. Johnson torne-se um diretor a ser acompanhado. Já familiarizado com cinema de baixo orçamento, tem em seu currículo algumas pérolas estreladas por Don “The Dragon” Wilson e Mark Dacascos, dois nomes que podem espantar a freguesia, mas basta uma sequência de THE BUTCHER para provar que o sujeito é herdeiro do bom e velho “cinema físico” de Peckinpah. O brutal tiroteio no bar não chega a altura de Bloody Sam, obviamente, mas há muito tempo que não vejo a utilização da violência em filmes de ação de maneira tão segura e exemplar. E não só isso, o sujeito tem noção dos espaços, da arquitetura da ação, dos enquadramentos, montagem, enfim, V. Johnson foi uma belíssima descoberta para o cinema de ação! O diretor de MEU ÓDIO SERÁ SUA HERANÇA com certeza se sentiria orgulhoso.
Johnson, na verdade, é dublê e trabalhou em vários filmes dos anos 90 de diretores do nível de Paul Verhoeven e Tim Burton. Seu próximo trabalho na direção a ser lançado é o drama de gangster CHARLIE VALENTINE, que conta em seu elenco umas figuras do calibre de Raymond J. Barry, James Russo, Tom Berenger, Steven Bauer, Keith David! Já está entre os meus filmes mais aguardados.
20.4.10
Ryan O'Neal's Birthday
Em homenagem a Ryan O'Neal, este grande ator que hoje completa 69 anos, deixo aqui uma pequena demonstração de seu talento, um dos momentos mais expressivos do cinema, sem dúvida alguma!
18.4.10
Poliziotto Superpiù (1980) - Tema Musical
Ah, os velhos bons tempos em que era possível assistir a Sergio Corbucci na Sessão da Tarde. Essa é para ouvir e sentir saudade...
16.4.10
Da série "tirando o atraso": Casas Mal Assombradas
Assisti pela primeira vez a POLTERGEIST (1982), de Tobe Hooper, há poucos dias. Sei que é um clássico da infância de muita gente, mas é que quando eu era pequeno meu negócio era ação (Stallone, Arnoldão, Van Damme, Seagal, Lundgren, etc) e não achava muita graça em filmes de terror, por incrível que pareça. Só fui me interessar bem mais tarde, especialmente o horror europeu, então esses clássicos americanos modernos do gênero realizados nos anos 70 e 80 acabei esquecendo.
Bom, corrigi o erro e aproveitei pra ver também HORROR EM AMITYVILLE (1979), do Stuart Rosenberg, outra lacuna que estava aberta pelos mesmos motivos.
Vou tentar falar um pouco sobre os dois, apesar de estar me sentido a última pessoa do mundo a vê-los, então nem tenho muito a acrescentar, a não ser que gostei bastante de ambos. POLTERGEIST foi o que me surpreendeu mais. Mesmo sendo creditado Tobe Hooper como diretor, ainda se discute a influência na direção do produtor Steven Spielberg, que também escreveu o roteiro. Realmente o resultado está mais para Spielberg que para o Hopper, mas o filme possui vários momentos brilhantes e assustadores que só um especialista do gênero terror impetraria.
Um espetáculo à parte dentro do filme são os efeitos especiais criados pela Light and Magic, com seus truques à moda antiga e não aquela coisa sem emoção gerada atualmente por CGI. Algo caro, que o Hopper só conseguiria se fosse mesmo explorado pelo diretor de TUBARÃO. De qualquer maneira, é um ótimo terror que eu gostaria muito de ter visto na infância, mas não me arrependo, pois deveria estar vendo RAMBO ou COMANDO PARA MATAR...
O tema da família aterrorizada por uma casa mal assombrada também serve para o mote de AMITYVILLE. Embora seja um belo exemplar de terror fantástico, em comparação com outros filmes do gênero ele é bem pé no chão, mais realista, o roteiro foca bastante no drama e transformações dos personagens, não é que não tenha momentos assustadores e etc, até porque o tom realista pode causar uma experiência ainda mais arrepiante.
A direção é bem segura do veterano Stuart Rosenberg, mais conhecido por seus dramas policiais, constrói um bom clima atmosférico aqui. Temos também a inspirada presença de Rod Steiger fazendo o papel de padre e só a sequência em que ele entra na casa já vale por 90% dos filmes de terror feito atualmente. Enfim, é um bom filme que não é considerado um dos clássicos modernos do terror americano a toa, mas quero assistir logo a continuação que parece ser mais porrada, com direção do italiano Damiano Damiani ainda por cima…
15.4.10
Mais POPATOPOLIS
Ainda sobre POPATOPOLIS, o ótimo documentário do post anterior, não deixem de conferir a entrevista que o Osvaldo Neto fez com o diretor Clay Westervelt publicada em seu blog. Boa leitura.
14.4.10
POPATOPOLIS (2009), de Clay Westervelt
Não me lembro de ter escrito sobre algum documentário, mas este aqui vale a pena, principalmente aos fãs de B movies. Mais do que um simples acompanhamento de bastidores de uma obra dirigida pelo Jim Wynorski, POPATOPOLIS é uma homenagem ao universo do cinema de baixo orçamento representado na figura de Wynorski, uma lenda viva que já fez mais de 75 filmes B ao longo da carreira.
O mote central do documentário dirigido por Clay Westervelt é que Jim decide filmar seu novo trabalho, o suspense erótico THE WITCHES OF BREASTWICK, em apenas três dias! Seguindo-o constantemente com sua câmerra, Clay acompanha todo o processo das filmagens, além de mostrar quem realmente é Jim Wynorski, contando um pouco sua história, mostrando cenas de seus filmes e entrevistando figuras que fizeram parte de sua jornada, como o mestre Roger Corman, o falecido Andy Sidaris, Julie Strain, Julie K. Smith e outras atrizes, até a mãe do Wynorski não escapa!
Dentro de sua casa, Jim exibe cartazes de todos os seus filmes espalhados pelas paredes, inclusive as do banheiro. Os armários da cozinha são cheios de livros, VHS e DVD’s ao invés das vasilhas e pratos. Já as filmagens de THE WITCHES acontecem em um local isolado, sem cobertura para celular, numa cabana na floresta que serve tanto como locação para a estória como habitação para o elenco e a equipe. Claro que isto se resume em pouquíssimas pessoas, mas nem mesmo verba para o lanche está incluída no orçamento.
Os sinais de como a tarefa de fazer um filme em três dias pode ser preocupante, por mais barato e descompromissado que seja, já inicia na primeira reunião de elenco. Wynorski descreve as cenas e a equipe começa a apresentar expressões alarmantes. Mas POPATOPOLIS carrega um tom muito bem humorado, com excelente edição e uma trilha sonora divertida. É engraçado ver Wynorski se estressando com erros e contratempos de filmagens e as várias soluções que ele encontra para driblar o baixo orçamento.
Nas entrevistas com as atrizes, todas elas falam como Jim é ótimo sujeito, respeitador, solidário, ao mesmo tempo em que pode agir como um bastardo mal educado. A cena em que Jim faz Julie K. Smith repetir dezenas de vezes a sua fala é impagável! Até eu fiquei agoniado. E olha que era questão de palavrinhas faltando numa frase que nem ia fazer diferença, principalmente para o público que só vai parar pra ver o filme por causa da boa dose de peitos! Mas Jim a fez repetir até que a frase estivesse correta.
Há também o lado melancólico do filme, quando alguns entrevistados comentam sobre a atual situação do cinema classe B e de como as coisas mudaram de alguns anos pra cá. Mas POPATOPOLIS é um desses esforços para manter viva a essência dos filmes independentes de baixo orçamento.
PS1: O título POPATOPOLIS vem de um dos pseudônimos de Jim Wynorski: Tom Popatopolous.
PS2: Já escrevi sobre vários filmes do Wynorski por aqui. Para conhecer mais do trabalho dele, é só clicar em seu nome nos marcadores aí em baixo.
9.4.10
ICARUS (2010), de Dolph Lundgren
Na mitologia grega, Ícaro tenta fugir de Creta voando com as asas feitas pelo seu pai, Dédalo, artesão do rei Minos. Mas ao voar muito alto, o calor dos raios do sol derreteu a cera que segurava as penas e Ícaro caiu no mar onde morreu. Mas o que o personagem mitológico tem a ver com o novo filme de Dolph Lundgren, além de servir como título? Absolutamente nada! Ou vocês esperavam uma densa contextualização mitológica num filme de ação estrelado e dirigido pelo eterno Drago?
O máximo da citação filosófica que remete à mitologia é quando o vilão, vivido pelo grande Bo Svenson, apontando uma arma para a cabeça do protagonista, cujo codinome é Ícarus, diz: “Você não pode voar muito perto do sol sem derreter suas asas... Ícarus”, uma metáfora muito bem inserida para substituir o velho “Você chegou ao fim da linha”. Mas tudo bem, o que vale mesmo é que ÍCARUS é um ótimo filme de ação levando em conta os entraves de seu realizador.
No ano passado, os fãs de Lundgren (ou seja, uns 10 malucos ao redor do mundo), depositaram suas esperanças em COMMAND PERFORMANCE, que prometia ser o máximo da ação casca grossa à moda antiga. O resultado não foi de todo ruim, mas não era o filme que esperávamos.
ÍCARUS também não é nenhuma obra prima retumbante de alto nível fílmico, mas consegue ser tudo o que COMMAND tentou ser e não chegou nem perto! Ainda este ano, Dolph fez uma marcante participação em SOLDADO UNIVERSAL: REGENERATION e em breve o veremos na tela grande em THE EXPENDABLES, do Stallone. Esses bicos devem ter feito um bem danado a ele, pois desta vez ele arrebenta com um filmaço de enredo interessante e um personagem que faria Chris Kenner pensar duas vezes antes de partir pra agressões físicas com ele.
Dolph vive um assassino profissional sangue frio que realiza o serviço sujo da máfia russa, mas se esconde atrás da figura de um executivo de agenda cheia. É o que ele quer que sua ex-mulher e filha pensem, já que os motivos da ausência (e da separação) foram as intermináveis viagens ao redor do mundo sujando as mãos de sangue. Dividido entre essas duas personalidades, Ícarus sofre um drama por querer ter uma vida de volta ao lado da filha e esposa da mesma forma em que é obrigado a continuar na profissão por conta de um passado misterioso. O bicho pega para o seu lado quando ele se vê como alvo de uma organização criminosa rival e percebe que não pode confiar em ninguém, a não ser nas suas próprias habilidades para manter sua família a salvo.
Lundgren nunca vai chegar ao nível de um Stallone na direção e sua atuação limita-se a fazer biquinho, mas é legal acompanhar o crescimento do ator/diretor. Até há uns quatro anos atrás, o sujeito ainda estava fazendo qualquer tralha para pagar as contas, algumas bem divertidas. COMMAND já demonstrava um amadurecimento, mas em ICARUS ele tem a oportunidade de se colocar entre os grandes autores do cinema independente de ação atual. Claro que não é intenção dele expressar uma performance do patamar de um Lawrence Olivier ou Marlon Brando, mas seu personagem tem uma complexidade bem acima dos que o Steven Seagal tem feito, o que não quer dizer muita coisa, na verdade...
No elenco, a participação do veterano Bo Svenson dá ao filme um motivo a mais para ser conferido pelos fãs de filmes B, pena que aparece tão pouco em cena. Stefanie von Pfetten faz com competência a ex-mulher do protagonista. Só que sua transformação no decorrer da trama é um pouco mal desenvolvida. Numa cena, seu namoradinho morre com um tiro na cabeça, algumas horas depois, ela já está em cima de Dolph numa cama de um quarto de motel "relembrando" os velhos tempos...
A ação do filme, apesar de constante, infelizmente tem os mesmo cacoetes de 90% dos realizadores atuais que tremem a câmera demais e utilizam montagens espertinhas, mas acho que continuar reclamando disso acaba ficando chato, a não ser quando a coisa é insuportável e o diretor nem desconfia do que está fazendo. Não é o caso de Dolph que tem muita noção de ação, além de bom senso em não usar sangue em CGI. Não chega a ser um John Flynn, mas dá para se divertir. Temos aqui longos tiroteios, explosões, porradaria comendo solta e alta contagem de corpos. Tudo o que já vimos em filmes anteriores do ator, só que Lundgren consegue injetar uma boa dose de substância e dramaticidade que o separa de outros colegas que realizam seus filmes direct do vídeo.
Sem dúvida alguma, os verdadeiros fãs do velho Dolph vão adorar ICARUS, o melhor trabalho dirigido pelo sujeito até agora. Espero que depois do lançamento de THE EXPENDABLES ele consiga aumentar o número de admiradores, talvez até consiga mais recursos e quem sabe consiga manter o nível deste aqui em seus futuros projetos. Eu, que o tenho como um dos principais astros de ação da minha infância, torço por isso!
8.4.10
Novo Pyun e entrevista com a Maurette
Enquanto não posto nada por aqui, vocês podem clicar neste link para conferir o texto que escrevi no blog Radioactive Dreams sobre BULLETFACE, o último filme do Albert Pyun lançado recentemente em DVD em terras estrangeiras.
A bela moça que ilustra o post é a argentina Victoria Maurette, nova queridinha do Pyun, que diz só querer trabalhar com ela daqui pra frente. E, de fato, é bem talentosa. Para conhecer um pouco mais sobre a Maurette, não deixem de ler também a entrevista que o Osvaldo Neto fez com ela e foi publicada no Boca do Inferno.
5.4.10
SURVIVAL OF THE DEAD (2009), de George A. Romero
Para alguns, Romero se tornou um velho gagá. Para outros, continua mestre do terror americano. Acho que está mais para uma mistura das duas coisas. O importante é que o sujeito está aí apresentando seu sexto filme de zumbis, SURVIVAL OF THE DEAD, e se não possui mais a mesma força inventiva da trilogia original (e realmente não possui), ao menos cada filme seu é uma revelação cujos impulsos criativos provam que o velho diretor ainda encontra-se sóbrio em relação ao seu cinema.
Em SURVIVAL, Romero utiliza pela primeira vez um personagem de um trabalho anterior para fazer uma ligação direta entre os filmes. No caso, o líder de um esquadrão do exército que apareceu rapidamente em DIÁRIO DOS MORTOS roubando o trailer dos jovens protagonistas que filmavam tudo com suas câmeras. Mas desta vez ele oferece uma opção visual convencional, substituindo a representação documental.
A trama ocorre seis dias após o surgimento dos zumbis em DIÁRIO. O cenário é uma ilha onde duas famílias proeminentes estão em conflito em relação à maneira de lidar com a epidemia dos mortos vivos. Os O’Flynns não toleram os zumbis e acreditam que devem ser exterminados sem piedade. Já o clã dos Muldoons pensa que um dia haverá uma cura e, enquanto isso, os zumbis podem ser domesticados e até mesmo alimentados com algo que não seja carne humana. Procurando um lugar para ficar em paz, o esquadrão acaba entrando no meio desta confusão.
Todos nós sabemos que os filmes de zumbis de Romero são, acima de tudo, metáforas que apontam críticas e reflexões sociais. Particularmente, acho que em SURVIVAL, o diretor não teve muito o que dizer ou não soube explorar essas idéias ou eu que tenho o QI de uma anta, o que é mais provável. Claro que há os militares e os personagens irlandeses da ilha cujas presenças possuem valor simbólico, como o próprio diretor afirma em entrevistas. Mas é pouco em comparação à substancial primeira trilogia.
Como filme B de zumbi isolado e sem grandes pretensões, não tenho do que reclamar. SURVIVAL é divertido pacas, possui bastante cenas de ação, muitos zumbis levando chumbo na cabeça, um bocado de gore e muito sangue (grande parte em CGI, infelizmente, mas já cansei de me preocupar com isso). Há um certo tom de humor que nem sempre se encaixa, mas também não me incomoda. Se por um lado Romero já não possui aquele vigor com circunstâncias sociais, como cineasta continua em plena forma, brincando com composições visuais estilísticas, algumas delas inspiradas no western, como no belo plano final.
Talvez eu esteja gostando do filme pelos motivos errados de novo, sendo tolerante demais e sem frescuras com alguns detalhes tortos, assim como em A ILHA DO MEDO. O que vejo aqui é um velhinho brincando de cinema de terror, com seus mortos vivos que já não assustam ninguém, sem a mesma grandeza e aspirações de outrora, mas ainda sobra para o espectador um passatempo fílmico de ótima qualidade. E no contexto do cinema de horror atual, isso é muita coisa!
2.4.10
RAJADAS DE FOGO (Once a Thief, 1991), de John Woo
Acabo de ligar a TV e está passando este filme do John Woo no MaxPrime neste exato momento. Escrevi sobre ele no Dia da Fúria e vale a pena reproduzir aqui, porque RAJADAS DE FOGO tem uma certa importância especial para a carreira de John Woo, não em relação ao filme em si, mas por proporcionar a continuidade de seu trabalho no cinema da maneira como ocorreu. Woo havia acabado a parceria com Tsui Hark; montou sua própria produtora cujo primeiro filme, BALA NA CABEÇA, embora seja um de seus melhores filmes, não foi um sucesso comercial; precisava urgentemente de um material seguro, que não precisasse correr riscos e que tivesse um bom retorno financeiro. Contratou dois atores com quem já havia trabalhado antes e que possuíam grande apelo popular, Chow Yun-Fat e Leslie Cheung; desenvolveu uma estória simples sobre roubo de obras de artes; incrementou com cenas de ação eletrizantes e acrescentou toques de melodrama adicionados de um humor pastelão. Acabou acertando em cheio.
RAJADAS DE FOGO é um dos filmes mais comerciais de Woo, um interessante híbrido de ação e comédia que garantiu um público amplo nos cinemas. Apesar de algumas situações de comédia não funcionarem tão bem no meio dessa mistura toda, os atores estão ótimos, em especial a dupla protagonista, com o falecido Leslie Cheung bastante carismático e Chow Yun Fat totalmente à vontade em seu papel, carregando boas doses dramáticas e cômicas durante o decorrer da estória. E ainda há a bela Cherie Chung se colocando no meio do triângulo amoroso, embora a força narrativa se concentre na amizade dos dois protagonistas. RAJADAS DE FOGO, no fim das contas, não chega a ir muito longe dentro da filmografia de Woo, mas é um entretenimento agradável que atende as expectativas do publico menos exigente e não deixa de divertir os fãs do diretor. O filme rendeu quatro vezes a mais que BALA NA CABEÇA, permitiu que Woo realizasse sua obra prima, FERVURA MÁXIMA, e preparasse o seu exílio nos Estados Unidos.
RAJADAS DE FOGO é um dos filmes mais comerciais de Woo, um interessante híbrido de ação e comédia que garantiu um público amplo nos cinemas. Apesar de algumas situações de comédia não funcionarem tão bem no meio dessa mistura toda, os atores estão ótimos, em especial a dupla protagonista, com o falecido Leslie Cheung bastante carismático e Chow Yun Fat totalmente à vontade em seu papel, carregando boas doses dramáticas e cômicas durante o decorrer da estória. E ainda há a bela Cherie Chung se colocando no meio do triângulo amoroso, embora a força narrativa se concentre na amizade dos dois protagonistas. RAJADAS DE FOGO, no fim das contas, não chega a ir muito longe dentro da filmografia de Woo, mas é um entretenimento agradável que atende as expectativas do publico menos exigente e não deixa de divertir os fãs do diretor. O filme rendeu quatro vezes a mais que BALA NA CABEÇA, permitiu que Woo realizasse sua obra prima, FERVURA MÁXIMA, e preparasse o seu exílio nos Estados Unidos.
1.4.10
VÍRUS (Carriers, 2009), de Àlex Pastor & David Pastor
A distribuidora brasileira nomeou CARRIERS com o mesmo título de uma ficção científica lançada por aqui em 1999, estrelada pela Jamie Lee Curtis e dirigida por um tal de John Bruno. Alguém se lembra desse VÍRUS? O filme inteiro se passa em alto mar, dentro de um navio, onde os personagens enfrentam uma força alienígena. Assisti na época e não lembro nem se é bom ou ruim. Mas pra ficar tão apagado na memória não deve prestar.
VÍRUS é um bom nome para este aqui, já que a tradução do título original não soaria muito bem... Mas vamos deixar o título em paz e concentrar na obra que é até bem interessante. Filmes de doenças, mutações bacteriológicas, etc, tem inspirado muitas fitas nos últimos anos, principalmente para explicar o surgimento de zumbis em filmes como EXTERMÍNIO, por exemplo. O vírus/bactéria/arma biológica não apenas mata a pessoa, mas infecta e transforma o indivíduo. No entanto, o que torna VÍRUS uma peça ímpar da safra atual é que o sujeito contaminado não altera seu comportamento. Ele simplesmente deteriora-se, morre e acabou. Claro que há a iminência do contágio para dar um suspense, mas a falta desse “algo a mais” coloca o filme num campo mais próximo da realidade.
Seguindo a estrutura de um road movie, VÍRUS narra a trajetória de quatro pessoas atravessando os Estados Unidos, num momento pós-apocalíptico, onde um vírus letal infectou e matou milhões de pessoas e continua a se espalhar rapidamente. Superficialmente, existem milhões de filmes com esse mesmo mote, inclusive o recente ZUMBILÂNDIA possui vários pontos em comum com este, em especial as rigorosas regras criadas pelos personagens para sobreviverem. Mas de alguma forma, o roteiro consegue fugir do senso comum, talvez pela falta de zumbis ou de infectados agindo de maneira violenta. Ou quem sabe pelo modo com o qual os diretores trabalham os clichês? O filme foca bastante na relação dos personagens, na questão da perda ou na possibilidade de abandonar a pessoa amada caso esteja infectado. E nessas situações, a dupla de diretores, os irmãos espanhóis Àlex e David Pastor, manda muito bem, com realismo e sem apelação sentimental.
O problema é a construção dos personagens. Todos eles são tão patéticos e fúteis que qualquer um deles poderia se contaminar que eu não daria a mínima. Na verdade, ficaria até feliz em vê-los sofrer. Imaginem um torture movie sci-fi onde os protagonistas estão todos infectados por um vírus e passam o filme inteiro apodrecendo até desfalecerem. Seria algo inusitado, um drama denso, e o David Cronenberg poderia dirigir. O que acham?
Chris Pine, intérprete do Capitão Kirk no novo STAR TREK, é o pior dos quatro. O sujeito chega a ser irritante de tão abobalhado. Se a intenção de Àlex e David era essa, então funcionou. Ainda no elenco Lou Taylor Pucci, Emily VanCamp e a gata Piper Perabo, para embelezar o filme, embora todo o trabalho visual e de composição das paisagens e cidades devastadas seja bem eficaz. VÍRUS não chega a altura de THE ROAD em suas intenções pós apocalípticas, mas recomendo ao menos uma conferida, aproveitando o lançamento nos cinemas brasileiros.
Chris Pine, intérprete do Capitão Kirk no novo STAR TREK, é o pior dos quatro. O sujeito chega a ser irritante de tão abobalhado. Se a intenção de Àlex e David era essa, então funcionou. Ainda no elenco Lou Taylor Pucci, Emily VanCamp e a gata Piper Perabo, para embelezar o filme, embora todo o trabalho visual e de composição das paisagens e cidades devastadas seja bem eficaz. VÍRUS não chega a altura de THE ROAD em suas intenções pós apocalípticas, mas recomendo ao menos uma conferida, aproveitando o lançamento nos cinemas brasileiros.
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