Se fosse há quinze anos, certamente estaria falando de uma famigerada raridade muito mais discutida do que realmente vista na sua versão integral, mas depois de sua redescoberta e o lançamento em DVD há tempos no exterior, falar de THRILLER é chover no molhado… Mas é um filme que me causa um certo fascínio e eu precisava escrever sobre ele por aqui no DEMENTIA 13. Trata-se de um dos exploitations mais famosos dos anos setenta, bastante lembrando também por ter sido uma das principais inspirações do diretor Quentin Tarantino ao escrever a saga da Noiva em KILL BILL, além de ser um dos pontos de partida para qualquer cinéfilo maluco que queira iniciar-se no universo do cinema extremo.
Produção sueca, assinada pelo diretor, produtor e roteirista Bo Arne Vibenius, que foi assistente de direção de Ingmar Bergman em PERSONA, THRILLER surgiu como uma tentativa de recuperar o dinheiro gasto no primeiro filme de Vibenius, uma aventura de fantasia infantil que ninguém viu e que foi um desastre de bilheteria. Segundo ele, este aqui seria apenas um "commercial-as-hell crap-film". Ok, então não sei onde foi que ele "errou", mas ao realizar este rape and revenge movie literalmente cruel, como o título adianta, uma autêntica obra de exploração abusando de doses cavalares de violência gráfica e sexo explícito, o sujeito acabou criando um clássico da subversão cultuado em todo mundo!
O primeiro cliente que aparece, a pobrezinha o ataca ferozmente! Como castigo, uma pequena lição para não esquecer, o gigolô lhe perfura um olho com um bisturi, numa das imagens mais chocantes do cinema grind house. A coisa fica ainda mais repugnante quando ficamos sabendo dos bastidores dessa sequência e que o olho que assistimos ser cortado pela lâmina sem qualquer edição era de um cadáver real de uma garota que havia morrido há pouco tempo. Brrr!
Ao descobrir que seus pais cometeram suicídio por causa das cartas injustas e maldosas que o gigolô enviava à eles com a assinatura dela, a garota inicia um longo processo de vingança que consiste num aprendizado de artes marciais, tiro ao alvo e habilidades ao volante, para depois partir para o implacável ataque contra todos que lhe fizeram algum tipo de mal.
Outro detalhe que faz o espectador levantar a sobrancelha são as pontuais cenas de sexo explícito inseridas na edição. Nenhuma delas foram filmadas com a Lindberg que, na trama, protagoniza as cenas em questão. Mas causam um estranhamento danado… Em determinado momento vemos a protagonista treinando karatê, praticando tiro ao alvo e logo em seguida um plano fechado “daquilo” entrando “naquilo”.
No entanto, apesar de toda essa áurea subversiva e doentia, de ser assumidamente um produto de exploração, com seu enredo repulsivo, cenas grotescas de violência escancarada e sexo explícito, um dos aspectos que sempre me impressionou muito em THRILLER é como o filme é lindo visualmente! Vibenius tinha muita noção de enquadramentos e surpreende com momentos de grande força estética, sublinhadas por composições que buscam trabalhar o fetiche semiótico, imagens que se transformaram em ícones do exploitation.
Assisti ja faz uns dois anos e aquele plano final demorou pra sair da minha retina. Um espetaculo de imagem e som. Em fim mostra o que pode acontecer com uma cabeça, uma corda e um cavalo.
ResponderExcluirA fotografia do filme é uma pintura e a imagem da Christina "paramentada" é realmente icônica. Único senão mesmo (além das inserções pornô, rejeitadas pelo próprio diretor), é o slow motion exagerado nas cenas de ação. Mas em compensação, dá um toque artístico autoral na coisa toda...
ResponderExcluirBelo resgate!