24.2.11

GAME OF DEATH (2010)

Não sei se alguém vai lembrar, mas eu publiquei uma notícia sobre este filme há tempos atrás. Era uma das produções mais esperadas por mim quando foi anunciado como o próximo trabalho do Abel Ferrara, o qual voltaria a trabalhar com Wesley Snipes, numa trama de ação policial e etc. Snipes continuou no projeto, Ferrara pulou fora. Foi substituido por um diretor da TV italina, Giorgio Serafini, ocorreram mudanças no orçamento, no tempo das filmagens, até no roteiro e o resultado é que GAME OF DEATH não passa de um genérico filme B de ação lançado direto para o mercado de vídeo.

Mas não vamos ficar chorando nem imaginando o que poderia ter saído se Ferrara tivesse realizado o filme. Como um fã desse tipo de tralha, o importante pra mim é que temos mais um exemplar para sentar no sofá, com um inebriante qualquer, para se divertir assistindo Wesley Snipes descendo o cacete em bandidos. Especialmente se o elenco conta ainda com Gary Daniels e Robert Davi pra aumentar ainda mais a ansiedade. Sim, eu fico animadão com esse tipo de coisa!

Wesley Snipes é um agente da CIA que age disfarçado como guarda-costa de um mafioso, vivido pelo Robert Davi. Durante uma operação, um grupo de agentes da CIA, liderado por Gary Daniels, resolve roubar o 100 milhões de dólares de uma transação que o mafioso está prestes a fazer. Snipes, que não concorda com essa atitude, decide continuar a “interpretar” o seu papel de guarda-costa para atrapalhar um bocado os planos de Daniels e sua turma.

Ao mesmo tempo em que temos um plot simples e que rende uma boa dose de pancadaria e sequências de ação, temos também um dos roteiros mais preguiçosos que eu me lembro de ter visto neste tipo de tralha, do nível dos filmes DTV do Steven Seagal pré DRIVEN TO KILL. A estrutura do filme é batida, a narrativa é de uma falta de noção espaço temporal (ok, não vamos exigir tanto dos realizadores). Geralmente esses filmes B de ação já são feitos nas coxas naturalmente, já faz parte da essência, com raríssimas exceções. E os clichês são quase obrigatórios… se não tiver, perde a graça. Mas aqui é demais. Os diálogos e algumas situações são extremamente mal resolvidas. É o clichê do clichê.

Para piorar a situação voltamos a ver os tiques visuais e de montagem que estragaram 80% dos filmes do gênero ao longo da década passada. Há algum tempo várias produções de baixo orçamento vinham prezando por uma montagem mais clássica e sem frescuras e em GAME OF DEATH algumas cenas parecem uma porra de video clip e o montador deslumbrado com os recursos de uma mesa de edição como uma criança numa loja de brinquedos querendo brincar com TODOS os brinquedos!

Mas vamos lá, o filme não é tão ruim assim quanto parece, apesar de tudo. Temos algumas boas sequências de luta. Ok, são editadas de forma picotadas e isso espanta muita gente. Eu também prefiro ver cenas de pancadaria da forma que o cinema de Hong Kong ensinou durante muito tempo, mas quando eu consigo enxergar e entender o que ocorre na tela, mesmo com a edição rápida e entrecortada me sinto satisfeito, como é o caso de GAME OF DEATH. Não sou tão radical xiita quanto alguns dos meus amigos blogueiros, hehehe.

E é legal ver novamente o Wesley Snipes atacando de badass, que mata sem remorços com as próprias mãos, sempre achei o Snipes um cara talentoso e aqui, mesmo com a “profundidade” de seu personagem, consegue desempenhar um bom papel. Gary Daniels é a mesma coisa, até surpreende compondo um vilão da pior estirpe, bem raso, mas para o tipo de filme que temos aqui, é suficiente. Já Robert Davi, faz aquilo que sabe. É sempre um ator competente. No elenco ainda temos Zoe Bell e Ernie Hudson completando o time.
Com um roteiro vergonhoso, cheio de defeitos bestas e irritantes na parte técnica, GAME OF DEATH ainda assim consegue divertir o espectador menos exigente que curte uma boa tralha de ação sem muito compromisso. Agora, que deixa uma curiosidade o resultado que teríamos se fosse dirigido pelo Abel Ferrara, com o roteiro preparado pra ele, com certeza deixa. Ferrara é um dos meus diretores favoritos do cinema americano atual, mas gostaria de vê-lo realizar novamente filmes policiais densos daquele jeito que só ele sabe fazer… Vou continuar aguardando.

23.2.11

SUMMER LOVE, aka Dead Man's Bounty (2006)

Como um velho admirador de bons atores “decadentes” ou subestimados pelos grandes estúdios, estava de olho no que o Val Kilmer estava fazendo nos últimos anos. Pra quem ainda não sabe, além de pequenas aparições em filmes porte maior (DÉJÀ VU, VÍCIO FRENÉTICO), o sujeito se transformou, nada mais, nada menos, em ator de filme de ação policial em produções B lançadas diretamente no mercado de vídeo. Não vai demorar muito para que o ex-Batman esteja numa lista ao lado de outros astros do gênero, como Wesley Snipes, Van Damme, Dolph Lundgren, etc…

Há uns 3 anos atrás, o Osvaldo Neto havia me falado deste SUMMER LOVE, um western de produção polonesa que conta com o Val Kilmer no elenco em uma peculiar participação. Mas só agora resolvi dar atenção. Kilmer estava em algum festival europeu, quando uns produtores poloneses chegaram até ele com uma maleta contendo US$50.000 propondo a ele uma participação no filme que estavam realizando. Acrescentaram ainda que só precisariam dele durante um dia das filmagens e ele não soltaria nem uma frase… e assim, temos aqui, um western europeu com o Kilmer no elenco.

Aliás, uma das coisas que SUMMER LOVE tem tirado como vantagem ao longo dos últimos anos é que se trata do primeiro faroeste polonês. Os especialistas do gênero, ou do cinema polonês (aqueles que vão além de Skolimowski e Kieslowski), podem confirmar essa história… afinal, o filme é muito recente.

O estreante diretor Piotr Uklanski utiliza da força criativa de suas belas imagens para narrar uma história cheia de formulações simbólicas, de narrativa poética e lenta, sobre um misterioso vaqueiro (Karel Roden) que chega a uma pequena cidade carregando o corpo de um homem procurado pela polícia. Lá ele se envolve num bizarro triângulo envolvendo a única mulher da cidade (Katarzyna Figura) e o xerife (Boguslaw Linda), que é apaixonado por ela…

E onde o Val Kilmer entra nessa história? Acertou quem disse que ele é o defunto! Seu personagem já surge em cena morto nos primeiros minutos, com as moscas rondando sua carcaça, os olhos esbugalhados e de vez em quando aparece alguns enquadramentos com angulos diferenciados representando a “visão” do morto… muito bizarro.

SUMMER LOVE é uma realização totalmente delirante, talvez um pouco oca, com sua alegoria sem muito sentido, pelo menos pra mim, mas muito lúcida. Consciente, ao menos, da força imagética que algumas belas sequências e enquadramentos possuem e que alimenta um ponto de vista muito pessoal de seu diretor. E ganha mais moral ainda por usar o western como forma de expressão. Uma pena que este tenha sido o primeiro e único trabalho desse polonês maluco!

21.2.11

TC 2000 (1993)

Após um período atribluado neste início de ano (que agora vai melhorando, ou pelo menos vou aceitando melhor a situação), aos poucos vou tentar retomar as atualizações com uma certa frequência por aqui. E para recomeçar com o pé direito (ou esquerdo, dependendo do gosto de cada um), vamos de um inspirado action B movie dos anos noventa estrelado por uma turminha da pesada, como dizia a narração da Sessão da Tarde! Aliás, resolveram chutar o pau da barraca com este TC 2000 escalando um elenco que é a essência do cinema B de ação daquele período! Billy Blanks, Bolo Yeung, Jalal Merhi e Matthias Hues num mesmo filme!!!

Imagem roubada do blog Bonga Shimbun!, do amigo Bruno Martino
TC 2000 copia na cara dura vários elementos já vistos em diversos filmes de ação e ficção cientítifica. Com a diferença de que os filmes copiados não possuem estas quatro figuras simpáticas trocando desaforos a cada 5 minutos! Billy Blanks e Matthias Hues, por exemplo, caem na porrada com menos de 15 minutos de projeção! Não tem como não se emocionar…

O ano é 2020. Uma catástrofe natural fez com que a parcela rica da população fosse viver nos subterrâneos, enquanto o restante da população, na superfície, mastiga o pão que o diabo amassou. Tirando esse pano de fundo, o que sobra para a trama é algo muito complexo, inteligente e difícil de acompanhar… sim, estou sendo irônico! Na verdade, é uma baita confusão, cheia de personagens e situações que só servem mesmo para criar ação e pancadaria a todo instante. Billy Blanks é um TC 2000, espécie de policial que faz a proteção contra os invasores da superfície, Jalal Merhi é o lider de uma gangue da superfície que tenta invadir o subterrâneo, Matthias Hues também é um TC 2000, mas é óbvio que não está do lado do bem e não vai com a cara do Blanks, e Bolo Yeung é um famoso lutador que vive na superfície e une forças com Blanks para derrotar os malvados… e por aí vai.

A trama mesmo não importa, o que vale é a truculência, e isso TC 2000 tem de sobra, com direito à frases de efeitos e certos descuidos que deixa o filme ainda mais divertido, como por exemplo um capanga da gangue de Merhi, cuja habilidade principal é o manejo com uma faca que fica rodando na mão. O cara morre no início do filme, mas parece que se esqueceram disso, e pouco tempo depois estava ele de novo rodando aquela faca pra cima do Bolo Yeung. As sequências de lutas não são de encher os olhos, mas até que para o tipo de filme, dá pro gasto! O mais esperado duelo da bagaça, Bolo Yeung contra Matthias Hues, no gran finale, poderia ser melhor, mas já é algo histórico para os fanáticos do gênero. Mas é Blanks quem rouba as cenas de luta, até mesmo quando confronta um simples meliante. O sujeito sabe fazer o seu espetáculo de chutes na cara. Já Merhi faz lá sua graça. A direção é por conta de um tal de T. J. Scott e não é ruim, embora tente uns movimentos de câmera desnecessários nas cenas de ação.

TC 2000 foi lançado em VHS no Brasil com esse mesmo título e nem preciso dizer que só é recomendável para os iniciados em tralhas desse tipo, né? O filme, na verdade, é uma porcaria se levado à sério, com grave risco do sujeito terminar a sessão com uma úlcera no estômago.

12.2.11

NOVO BLOG DE UM VELHO CONHECIDO

Marcelo Carrard, que editou durante 6 anos o blog MONDO PAURA, retorna agora nesta nova aventura virtual, como ele mesmo diz. NUDO E SELVAGGIO é a sua nova casa onde vai tratar de muito cinema extremo e obscuro. Obrigatório!

7.2.11

OUTRAGE (2010), Takeshi Kitano

Vi o novo Takeshi Kitano, também conhecido como o retorno do diretor ao violento mundo da máfia japonesa. Mas, antes de tudo, OUTRAGE não pode ser igualado a outros filmes do gênero realizados outrora pelo Kitano, como HANNA BI ou BROTHERS, etc. O filme é engraçadíssimo! Na verdade, o humor é sutil, mas dei boas risadas com situações que eram violentíssimas e cômicas em medidas iguais, como na cena do consultório odontológico, onde o próprio Kitano, que interpreta o lider de uma pequena facção criminosa da Yakuza, resolve dar uma de dentista enfiando uma broca nos dentes de um dos chefes de uma gangue rival.

Apesar da presença do Kitano em cena, o filme não possui protagonistas. A trama é composta por vários tipos de "gags" que se espera de antemão quando ocorre uma guerra entre organizações mafiosas. Um membro de uma família é espancado ali, outro membro morre por vingança lá, um carro é explodido acolá, pedidos de desculpas com direito a dedinho decepado, e por aí vai… Tudo isso narrado com elegância e inteligência de quem sabe o que faz, trabalhando com competência os clichês do gênero e, de novo batendo nessa tecla, com um tom de humor inesperado mesclado à violência habitual dos filmes de Beat Takeshi.