29.1.09

E DEUS DISSE A CAIM (1970), de Antonio Margheriti


Um Western Spaghetti estrelado pelo Klaus Kinski como este aqui é uma destas demonstrações fundamentais de toda razão de ser do cinema. Não que o filme em si seja uma obra prima absoluta, mas são pequenos detalhes, pequenas junções que formam o essencial. É praticamente impossível dar algo errado.

E DEUS DISSE A CAIM se resume basicamente numa trama de vingança. Kinski interpreta um sujeito que foi preso injustamente. Depois de 10 anos é liberto e parte para uma vingança pessoal em cima dos responsáveis pela desgraça toda. Kinski é todo o filme, mesmo dublado em italiano, o ator se manifesta com o olhar expressivo ou com a simples presença em cena como um fantasma da morte.

A direção é por conta de Antonio Margheriti (sob o pseudônimo de Anthony M. Dawson), um dos diretores mais versáteis desse período do cinema italiano (da década de 60 à 80). Trabalhou bastante com sci-fi e terror no início de carreira e praticamente terminou fazendo filmes de guerra e ação nas Filipinas. No meio do trajeto fez vários pepla (plural de peplum), westerns spaghetti, etc.

É interessante o projeto estético de E DEUS DISSE CAIM, pois Margheriti trata o filme da mesma maneira que realizaria um terror, utilizando-se dos elementos característicos e da atmosfera densa e escura, dando um tom singular, tão singular quanto seus filmes de horror gótico. É um verdadeiro dark-western, digamos assim, se é que precisa classificar alguma coisa. Mas fica a recomendação obrigatória aos fãs do gênero.

27.1.09

GOMORRA (2008), de Matteo Garrone

Finalmente assisti a este ótimo filme de Matteo Garrone, baseado no homônimo de Roberto Saviano. Trata-se de um filme que procura de alguma forma denunciar, analisar ou simplesmente mostrar o funcionamento de uma das organizações mafiosas mais perigosas do mundo, a “camorra”, que é algo um tanto complexo de se abordar tendo em vista a grande variedade de veias que funcionam dentro da organização.

Mas até que Garrone se sai muito bem, principalmente pelo tom realista, cru, sem trilha sonora nem o glamour de algumas fases dos filmes de gangsters americanos (sem desmerecer, obviamente, estas fases, que eu tanto adoro). Tudo gira em torno dos tentáculos da organização e o diretor tenta abocanhar um pouco de tudo. Optou por uma narrativa entrecortada por várias histórias e que gera um certo desequilíbrio no seu decorrer, pois alguns fragmentos não têm o peso de outros.

Coisinha boba de delimitação e quebra de ritmo, na verdade. As situações mais interessantes têm força suficiente para compensar a falta das outras. Num balanço geral, GOMORRA é desconcertante, sério e renova o vigor cinematográfico italiano sem precisar de manifestos, anacronismos ou se deslocar demais de todo resto.

26.1.09

Stallone e seus mercenários

Visual de Stallone para seu personagem em THE EXPENDABLES, filme cuja direção também é assinada por ele. Impressionante o físico do sujeito aos 62 anos! E essas tatuagens? Vai me dizer que o cara não tem estilo?

O filme ainda possui um dos elencos mais exóticos que eu já vi: além do Stallone temos Dolph Lundgren, Jason Statham, Randy Couture, Forest Whitaker, Jet Li, Mickey Rourke. Parece que a trama gira em torno de um grupo de mercenários que tem como objetivo derrubar um ditador aqui da América do Sul. Obra prima pintando por aí...

25.1.09

FROST/NIXON (2008), Ron Howard

Me pegou de surpresa. Não esperava um filme tão interessante vindo do Ron Howard. É... não sou lá um apreciador do cinema do cara. Aliás, o vejo simplesmente como mais um diretor sem personalidade alguma da Hollywood atual. Mas mandou muito bem em FROST/NIXON que rendeu indicações ao Oscar de melhor filme, diretor, ator, etc. Não acho isso tudo, mas já nem discuto mais os critérios e motivos dos quais o povo da Academia escolhe os filmes indicados. Destas, só a de ator para o Frank Langella é realmente merecida.

Mas como eu disse, o filme me surpreendeu. Deve ser porque eu esperava algo bem diferente do que vi. Pensei que seria um filme essencialmente focado na entrevista que David Frost realizou com o ex-presidente americano Richard Nixon. Mas não. O filme vai mais além e é muito dinâmico. O roteiro explora de maneira ficcional os bastidores da famosa entrevista explorando ambos os lados (entrevistador e entrevistado) em seus momentos antes, durante e depois do tal evento.

Ron Howard até consegue conduzir tudo num bom trabalho de direção econômica sem os excessos habituais. O grande ápice do filme acontece quando inicia o conflito psicológico e verbal entre os dois protagonistas – e que não ocorre somente na entrevista - com ótima edição, uma fotografia muito bem elaborada e um show de atuação da dupla de protagonistas. Há uma belíssima cena quando Nixon telefona para Frost, um dos momentos mais “fortes”, digamos assim, e que Langella destrói. O sujeito está um monstro em todos os momentos em que surge em cena. Uma coisa absurda. Desde os mínimos detalhes até as expressões faciais, Langella se transformou no Richard Nixon, mesmo não tendo aparência alguma com o ex-presidente americano. Gostei até mais que a atuação do Sean Penn em MILK...

Uma questão que eu achei curiosa em FROST/NIXON é a de trazer a tona, justamente agora, um presidente americano que fez umas “cagadas” durante o período que esteve no poder (não que outros não tenham feito). Mas faz uma boa alusão ao último presidente americano, não é mesmo?

23.1.09

Samuel Fuller - Parte I

MATEI JESSE JAMES (1949): Logo no seu filme de estréia, Sam Fuller dá uma pequena demonstração do que seria o seu cinema de conflitos psicológicos e humanista. Filmado em apenas dez dias, o ambiente aqui é o de um western, mas a preocupação não é com o lendário herói do oeste, nem com o perigoso vilão rápido no gatilho. Fuller desconstrói seu protagonista, coloca densidade em seus passos e entra na mente do homem que matou Jesse James covardemente com um tiro nas costas. A cena do bar onde um sujeito canta a famosa canção sobre o ocorrido pode ser considerada a primeira antologia do diretor. * * * *

O BARÃO DO ARIZONA (1950): Também filmado em pouco tempo (precisou somente de quinze dias), é provável que não seja dos melhores filmes de Fuller, cujo resultado é até um tanto raso em comparação ao seu filme anterior, embora não deixe de ser um grande filme, principalmente quando temos como protagonista ninguém menos que o excepcional Vincent Price em início de careira, antes de se tornar um ícone do terror. Sua presença é essencial na jornada de um homem que tenta enganar meio mundo para se apossar do Arizona com documentos falsos. * * *

CAPACETE DE AÇO (1951): Primeira obra prima do diretor. Um melancólico e seco estudo de caráter humano onde o cenário da guerra (no caso, a da Coréia, é o primeiro filme sobre o assunto) é apenas um motivo para que as personagens sejam cuidadosamente apresentadas, exploradas e desenvolvidas ao máximo para extrair toda tridimensionalidade. Na verdade, nem existe aqui uma história definida com início, meio e fim, mas sim uma jornada que leva a um templo budista onde se passa quase toda projeção, um lugar que transcende o ambiente de guerra e dá um tom onírico que transforma o filme num exercício visual de sonho. * * * * *

BAIONETAS CALADAS (1951): A construção de personagens não chega à mesma intensidade que seu filme anterior (foram rodados no mesmo ano), embora ainda seja bastante psicológico e a caverna onde os soldados se reúnem consegue transmitir um ambiente tão onírico quanto o templo budista de CAPACETE DE AÇO. Mas aqui é onde Fuller dá uma aula de composição, de espaço cinematográfico, de como orquestrar seqüências de batalha de maneira visceral, crua, gerando um clima tenso que estrutura toda a narrativa. * * * *

PARK ROW (1952): Antes de se tornar cineasta, Fuller trabalhou como jornalista e é interessante como ele dedicou toda a essência de sua profissão neste seu único filme sobre o tema. É um dos seus trabalhos mais sinceros e infelizmente, pouco conhecido. Tanto que todo dinheiro - que saiu dos bolsos do diretor - utilizado na produção foi perdido totalmente. Filmado em estúdio, em apenas 14 dias, o filme também funciona como uma genial aprendizagem de trabalho de câmera e mise-en-scène. * * * *

21.1.09

1990 - OS GUERREIROS DO BRONX (1982), de Enzo G. Castellari

A essa altura, acho que quase todo mundo sabe que certa parcela do cinema italiano no início dos anos 80 era formada por alguns dos principais picaretas da indústria cinematográfica mundial. Choviam filmes italianos que se aproveitavam do sucesso comercial de outra produção. MAD MAX, por exemplo, foi responsável por gerar uma penca de filmes pós-apocalípticos carcamanos. 1990 – OS GUERREIROS DO BRONX é um belo exemplar, embora não tenha nada a ver com o filme estrelado pelo Mel Gibson. Na verdade, é uma mixagem inspirada de FUGA DE NOVA YORK, de John Carpenter com THE WARRIORS, de Walter Hill.

A direção do grande Enzo G. Castellari é muito acima da média das imitações de baixo orçamento que surgiam aos montes na época, mas 1990 – OS GUERREIROS DO BRONX não ficou livre de alguns problemas que constantemente eram encontrados nestas específicas produções, como é o caso do roteiro fraquíssimo, bem cretino mesmo, cheio de buracos e diálogos pífios, além do personagem principal, supostamente o cabra durão do pedaço, interpretado pelo italiano Marco di Gregorio (aqui creditado como Mark Gregory), que não possui carisma algum e caminha como se estivesse com um caroço de milho enfiado no rabo. É lógico que o resultado acaba sendo mais divertido por esses elementos de humor involuntário do que pela proposta em si.

O filme ainda conta no elenco Vic Morrow (em seu último papel antes de morrer no set de THE TWILIGHT ZONE), Fred Williamson e George Eastman, só pra ficar entre os mais conhecidos. A trama é de uma estupidez deliciosa que nem vale a pena ficar gastando. Castellari conduz muito bem as cenas de ação com uma bela contagem de cadáveres e várias seqüências em câmera lenta bem ao estilo Sam Peckinpah. A cena em que Vic Morrow invade o esconderijo dos Riders (cujo lider é a figura que eu comentei no parágrafo anterior) distribuindo bala é um primor, fora a porradaria que come solta durante o filme, principalmente perto do final quando acontece um quebra pau entre Williamson e Eastman.

Mas a diversão continua também nas situações precárias da produção que rendem boas risadas. Um bom exemplo se encontra num dos principais argumentos da trama. No filme, o bairro do Bronx tornou-se uma terra sem lei e sem ordem comandada por diversas gangues, mas a produção não teve permissão de fechar as ruas do bairro para as filmagens, por isso é hilário notar no fundo os carros passeando e as pessoas andando normalmente nesta suposta "terra de ninguém", violenta, sem lei e ordem. Mas o que importa é a essência, não é mesmo?

20.1.09

Cronenberg em estrelinhas

Sem muito o que dizer, segue as cotações para a filmografia de um dos meus diretores favoritos:

SENHORES DO CRIME (Eastern Promisses, 2007) * * * *
MARCAS DA VIOLÊNCIA (A History of Violence, 2005) * * * * *
SPIDER (2002) * * *
EXISTENZ (1999) * * *
CRASH (1996) * * * * *
M. BUTTERFLY (1993) * * * (precisando urgente de uma revisão)
NAKED LUNCH (1991) * * * * *
DEAD RINGERS (1988) * * * * *
A MOSCA (The Fly, 1986) * * * *
NA HORA DA ZONA MORTA (The Dead Zone, 1983) * * * *
VIDEODROME (1983) * * * * *
SCANNERS (1981) * * * *
THE BROOD (1979) * * * *
FAST COMPANY (1979) não vi
RABID (1977) * * *
CALAFRIOS (Shivers, 1975) * * *
CRIMES OF FUTURE (1970) não vi
STEREO (1969) não vi

18.1.09

ROCKNROLLA (2008), de Guy Ritchie

Sem tirar nem por, Guy Ritchie segue fazendo aquilo sabe, fiel ao seu estilo, doa a quem doer. Quem não gostou de seus filmes anteriores não é agora que vai passar a gostar. Mas quem gostou (como eu), vai se divertir mais uma vez com ROCKNROLLA, que pertence a mesma linha dos filmes que o “consagraram” (para o bem ou para o mal).

Inclusive o enredo possui o mesmo esquema: por trás de uma teia de tramas criminosas que se entrelaçam, há um objeto fetiche (o quadro da sorte de um gangster russo, neste caso) que passa de mão em mão entre os gangsters londrinos, um roqueiro drogado, uma contadora pilantra e etc. Tudo isso acompanhado pelo estilo videoclípico do ex-marido da Madonna que, vejam bem, funciona perfeitamente dentro da proposta.

A referencia principal de Ritchie é Tarantino, mesmo que os filmes de gangsters seja algo mais que clássico no cinema. Como eu disse, seus filmes sempre apresentam o cruzamento de histórias paralelas, mas continua acompanhando a escola do diretor de PULP FICTION com a trilha sonora espertalhona e o uso de violência em situações ridicularizadas sempre ao tom de um humor negro.

Em uma das melhores cenas de ROCKNROLLA acontece justamente isso. É a tentativa de um roubo onde três gangsters londrinos (um deles interpretado pelo spartano Gerard Butler) se deparam com dois russos que são verdadeiras máquinas e a situação acaba se desenrolando numa sucessão de gags tão violentas quanto engraçadas.

Além de Butler, e vários bons atores, o filme conta com a presença do grande Tom Wilkinson interpretando um bandidão estilizado. O filme é bem divertido, no final das contas, e mostra que Guy Ritchie é uma das únicas sombras do Tarantino que consegue manter um estilo próprio. O próximo filme do cara é Sherlock Holmes, com Robert Downing Jr. e Jude Law. Tem tudo pra ser uma nova experiência para o diretor, mas depois ele pode continuar fazendo o mesmo de sempre...

Obs: Tratando da filmografia de Ritchie, eu SEMPRE ignoro aquela porcaria que ele fez com sua ex-mulher.

14.1.09

últimos filmes...

O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON (2008), de David Fincher: Era o meu favorito daquela premiaçãozinha cretina que ocorreu no último domingo, tendo em vista que GRAN TORINO e THE WRESTLER não concorreram ao prêmio principal. Mas este aqui também é muito bom, do mesmo nível que estes dois. Lógico que é infinitamente melhor que SLUMDOG (acho que já virei o maior detrator do filme do Danny Boyle). É uma espécie de conto de fadas para adultos, brilhantemente conduzido pelo David Fincher e com roteiro de Eric Roth (o mesmo de FORREST GUMP, e já até começaram as comparações entre os dois filmes...) adaptado de um conto escrito em 1922 por F. Scott Fitzgerald sobre um sujeito que nasce velho e vai rejuvenescendo na medida em que cresce. A partir dessa premissa bizarra, Fincher constrói uma trama riquíssima em detalhes que além de manter a atenção do público integralmente, consegue induzir a reflexão sobre o tempo e a morte (ou a vida). Me peguei pensando nessas questões ainda horas depois que filme havia acabado. A maquiagem e o visual são muito interessantes, um belo exemplar de como recriar mundos e corpos artificiais de maneira funcional. Haja photoshop!

MILK (2008), de Gus Van Sant: Este aqui também é outro que poderia estar entre as categorias principais, mas foi ignorado. Porque não é só de Sean Penn que o filme sobrevive. Claro que o sujeito está excelente interpretando Harvey Milk, o primeiro político assumidamente gay eleito nos Estados Unidos, mas a direção de Gus Van Sant também é ótima! É a mistura, que uma hora aconteceria, entre aquela linguagem experimental iniciada em GERRY com a convencional da época de GÊNIO INDOMÁVEL. Uma coisa de alto nível para o “padrão Hollywood”. Principalmente com a fotografia maravilhosa do Harris Savides. O elenco é de primeira e conta com James Franco, Emile Hirsch, Josh Brolin, Diego Luna e outros que também merecem destaque. A trama acompanha o protagonista desde a época em que decide mudar de vida com seu bofe, aluga um canto na Rua Castro (bem sugestiva), em San Francisco, e inicia modestas campanhas políticas, manifestações em favor dos direitos homossexuais até se tornar um político de verdade. É um bom panorama sobre o tema nos anos setenta nos Estados Unidos e Sean Penn está sensacional, mas ainda assim, prefiro o personagem mais humano de Mickey Rourke em THE WRESTLER.

A TROCA (2008), de Clint Eastwood: Como prometido, levei a minha pequena ao cinema. Só Não entendi qual foi a dos críticos em meter o pau neste filme. Na verdade, entendi sim, mas não concordo. O problema seria a falta de equilíbrio e o foco, já que no meio de uma trama nasce outra, talvez com maior peso que a primeira. Ok. Isso de fato acontece. Inicialmente, o filme trata de uma mãe (Angelina Jolie, demonstrando que pode ser ótima atriz quando trabalha com o diretor certo) cujo filho foi seqüestrado, acaba desconfiando que o garoto que a policia encontrou e “devolveu” não se trata da mesma criança que deveria ser seu filho. Aí surge uma história paralela, uma investigação policial sobre um serial killer de crianças, que obviamente faz ligação com a outra história. Bom, é certo que nas mãos de outro diretor, o filme seria uma bagunça cheia de excessos, mas estamos falando do velho Clint. O sujeito conduz da mesma forma segura, clássica, com força narrativa como em qualquer outro filme seu e tudo flui muito bem. As suas mais de duas horas de duração passam tranquilas e o resultado é um filme belíssimo. A diferença é que, se não me engano, é o primeiro filme com ponto de vista feminino na filmografia do Clint. Mas isso também não é problema algum...

11.1.09

THE WRESTLER (2008), de Darren Aronofsky

Continuando as falácias. Como disse há algum tempo atrás, o Mickey Rourke é um dos meus atores favoritos desde que comecei a acompanhar alguns filmes do cara dos anos 80. Rourke era um espetáculo atuando, algo que me lembra um Marlon Brando. Sério! É só assistir NOS CALCANHARES DA MÁFIA, CORAÇÃO SATÂNICO, O ANO DO DRAGÃO e muitos outros, pra perceber (ou não, o que é mais provável). E vou repetir: sempre achei que se não tivesse largado a carreira de ator pra seguir a de pugilista profissional, Rourke já teria roubado papéis de muitos oscarizáveis nos últimos anos. Mas agora não preciso mais pensar assim. O sujeito conseguiu se reerguer. E nossa! Como é bom ver novamente o velho Rourke atuando pra valer!

Todo mundo já deve saber o básico do filme, então vamos lá: Rourke vive aqui Randy 'The Ram' Robinson, um lutador de Luta Livre (é, aquela que é tudo de mentirinha) decadente que passa por maus bocados com a grana sempre apertada, saúde debilitada e problemas de relacionamento com a filha. A única coisa que sabe fazer e faz muito bem, é se apresentar nos ringues e dar um show de wrestler onde ainda possui um bom número de fãs, até porque este esporte também anda mal das pernas ultimamente. O filme acompanha integralmente a jornada de Randy, mas ainda sobra espaço para Cassidy, uma stripper interpretada pela Marisa Tomei, que está maravilhosamente linda e muito bem em sua personagem e que serve de apoio para Randy em alguns momentos.

Assistindo ao filme, me peguei pensando na dependência que essas pessoas têm do próprio corpo para sobrevivência. Randy só sabe subir num ringue e lutar – por mais que seja tudo falso, não deixa de ser um exercício físico desgastante – enquanto Cassidy exibe o seu para poder ganhar dinheiro. Mas é algo para se refletir com mais profundidade...

A direção de Aronofsky é muito boa. Sempre com a câmera na mão, seguindo de perto o protagonista, com edição fragmentada, me lembrou vagamente uma mistura de Lars Von Trier com Gus Van Sant, mas de forma mais comedida. É um filme muito simples, mas ganha o espectador pela carga poderosa da monstruosa atuação do Rourke, e ainda pela fotografia crua, a mão segura do diretor e nas escolhas que faz. Ah! E as cenas de lutas são demais, viscerais e realistas. Aronofsky aborda muito bem os bastidores deste esporte e ver Mickey Rourke dando uma de Ted Boy Marino é excelente! O sujeito põe pra quebrar nas coreografias da Luta Livre.

Rourke é o grande nome em THE WRESTLER, isso fica bem claro, e não vou ficar rasgando mais elogios para o cara. Já li algumas comparações entre a vida do personagem com a do próprio ator em relação à decadência e tal. Eu não vejo tanto assim. Se forçar, dá pra comparar, mas são situações completamente diferentes. O que importa é que ele retorna ao topo. Talvez tão alto quanto jamais esteve, e o velho Rourke merece.


Obs: E hoje teremos o Globo de Ouro, não que eu tenha obsessão por esses premiozinhos de merda, mas espero ver o trabalho do Rourke em THE WRESTLER sendo reconhecido mais uma vez. Ficaremos na torcida!

9.1.09

GRAN TORINO (2008), de Clint Eastwood

Falando em linguagem moderninha pós anos 90 (ver o post logo abaixo), estava conversando outro dia com o Daniel Dalpizzolo justamente como o Clint Eastwood e o John Carpenter parecem ser os últimos herdeiros de uma geração clássica da velha Hollywood. E pensando aqui comigo, se esses dois gigantes do cinema passassem dessa pra melhor, quais diretores assumiriam o seu lugar? Talvez nenhum, mas é engraçado como quanto mais maduro um cineasta se torna, mais perto de uma linguagem clássica ele chega. Nos últimos anos tivemos David Fincher com ZODIACO e Paul Thomas Anderson com SANGUE NEGRO, só pra ficar nos mais novos e reconhecíveis do grande público. Ainda não vi THE WRESTLER, mas já está me cheirando o filme mais maduro do Aronofsky. Mas deixo essa discussão para os comentários.

Vamos ao que interessa. Enquanto hoje, sexta feira, por um milagre divino, vai estrear A TROCA (o outro filme do diretor) aqui em Vitória, resolvi falar de GRAN TORINO. Não que tenha gostado mais de um ou do outro, mas é que ainda não assisti o primeiro, devo fazer isso na telona este fim de semana, acompanhado da patroa, que gosta de me impressionar falando dos filmes que vê comigo e desde QUANTUM OF SOLACE não a levo ao cinema. Mas nem por isso deixa de ver filmes. GRAN TORINO é um exemplo, e ela adorou, ou seja, o filme não é tão “pra macho” quanto aparenta ser no trailer e no cartaz. A coisa aqui carrega uma grande carga de sentimento e a forma como o humor é inserido no contexto é sensacional.

Mas o melhor é o Clint Eastwood em cena. Há alguns meses ele declarou que iria se aposentar das aparições em frente às câmeras, o que é uma pena, pois seu trabalho como ator parece estar cada vez melhor. Se em MENINA DE OURO aquele personagem melancólico e solitário já enchia os olhos, imagine então agora um melancólico, solitário, racista, arrogante, rabugento e mais uma infinidade de adjetivos. Se for mesmo seu ultimo filme, fechou com chave de ouro. A trama se concentra neste sujeito, interpretado pelo Clintão, um veterano de guerra que acabou de perder a esposa e agora vive solitário em sua casa observando a chegada de imigrantes orientais em seu bairro. Até que em uma noite, seu vizinho tenta roubar seu Gran Torino desencadeando uma série de acontecimentos que vão dar algum sentido na vida do sujeito.

Não vou ficar aqui fazendo análises profundas sobre as metáforas da obra, pois GRAN TORINO é rico em significados. Pode muito bem ser visto como um drama com toques de humor, mas é legal também assistir com um olhar mais reflexivo, reparando todas as camadas de sentidos, como racismo, religião, fraternidade, cultura, redenção, e vários ouros temas abordados. O roteiro de Nick Schenk flui com perfeição sob a direção do Clint que é excelente, clássica, poderia ter sido filmado nos anos 50 que não faria diferença alguma, sem afetações bestas, fotografia magnífica e com a distancia ideal. Nunca se desdobra pro cinema fetiche, o carro do protagonista que dá nome ao filme, por exemplo, é sempre filmado de longe sem a importância que vários diretores metidos dariam. O Danny Boyle filmaria cada centímetro daquele carro com câmeras acrobáticas, o Clint jogou uma lona por cima e foi fazer cinema.

5.1.09

SLUMDOG MILLIONAIRE (2008), de Danny Boyle

Já vou avisando logo que não gostei. SLUMDOG MILLIONAIRE é o típico filme que me cansa atualmente. Se o que o Danny Boyle fez aqui for cinema, então concordo que funk pode ser considerado musica! Ou seja, não deixa de ser filme, mas não tem nada de cinematográfico nessa linguagem irritante que não passa de um conjunto de videoclipes que vai pontuando a narrativa, e aqui isso acontece com excesso!

A história trata do rapaz que ficou milionário participando de uma espécie de Show do Milhão indiano, e mostra desde sua infância sofrida às duras penas até o momento em que vence o prêmio. É muita coisa pra pouco filme, acaba que esse longo percurso abordado seja resumido num carnaval "videoclíptico" de movimentos de câmera sem sentido, de uma edição rápida cujos planos e enquadramentos não possuem valor algum, é técnica pura, cinema que é bom, nada.

É a linguagem afetada de Danny Boyle, fazer o que? Parece que ele faz filmes pra estudantes de cinema preocupados em aspectos técnicos, mas de vez em quando ele acerta (COVA RASA, TRAINSPOTTING, EXTERMÍNIO).

Além de todo malabarismo de câmera/montagem e os momentos irritantes em que o filme se transforma em verdadeiros videoclipes, outro problema em SLUMDOG MILLIONAIRE é o roteiro, que possui diálogos fraquinhos cheio daquelas frases artificiais que simplesmente reforçam o interesse no Oscar, no “melhor” do padrão Hollywood de sucessos, se é que me entendem.

E lá pelas tantas, o filme começa a dar atenção às questões amorosas do personagem. Vira praticamente um final de novela, uma coisa muito nojenta de se acompanhar. No final eu já estava com sensação de ter jogado meu tempo no lixo. Mas tudo bem. Essa impressão é absolutamente minha e não é a intenção desanimar alguém, ainda mais por ser um filme bastante esperado, com certeza vai concorrer ao Oscar e vai agradar os cinéfilos moderninhos, então não deixem de ver e tirar a própria conclusão.

3.1.09

Dupla sessão: John Woo

Uma das promessas em 2009 é tentar assistir mais John Woo. Não só ele, na verdade, mas também o Clint Eastwood, Budd Boetticher, Jacques Tourneur, Castellari, Aldrich, ih! A lista vai longe...

HARD BOILED (92) já faz um tempinho que eu vi, então me dêem um desconto, ok? Vou apenas passar o que eu me lembro. Primeiro, a observação óbvia de que este é o ultimo filme que Woo dirigiu em Hong Kong antes de ir pra Hollywood. Minha opinião: não sou muito fã dos filmes americanos dele. O ALVO é regular (Van Damme de mullets!), A ULTIMA AMEAÇA é bonzinho, o único que eu gosto realmente é A OUTRA FACE, daí pra frente ou é porcaria ou não vi. Já os filmes de Hong Kong, vi pouquíssimos. Mas voltando ao HARD BOILED, que maneira de se despedir de sua terra natal! Puxa vida! É uma verdadeira obra prima do cinema de ação. O filme inteiro é frenético e Woo demonstra total maestria na composição de cada cena, enquadramentos, movimentação de câmera, slow motion, inclusive os fogos de artifício, a pirotecnia, parece tudo sobre controle. O final é uma doas coisas mais lindas do cinema de ação. Filmado dentro de um hospital em apenas 35 dias, sem story boards ou planejamentos burocrático, é uma verdadeira aula de arquitetura de imagem em movimento.

O outro que eu queria falar é o THE KILLER (89), que assisti recentemente. E também é uma belezura! Eu achei inferior a HARD BOILED, mas acho que só de dizer que é “inferior” a alguma coisa, eu já merecia uma paulada na cabeça. Digamos então que é menos maravilhoso que o outro. É um filme que faz questão de se concentrar nos conflitos psicológicos de seus protagonistas, um assassino sentimental e um policial com fortes laços de amizade com seu parceiro, ambos se confrontam e depois unem forças contra a Tríade. Alguns momentos o filme deságua num belo melodrama, mas ainda assim é tão frenético quanto o outro em termos de ação. O tiroteio final na igreja é espetacular, o ambiente lânguido, cheio de velas e pombos brancos sobrevoando o balé de corpos em tiroteios sangrentos em slow motion. Igreja, pombos, sim, ele repetiu essa mesma ambientação em A OUTRA FACE, mas aqui a coisa pega fogo com muito mais intensidade.

Os dois filmes têm em comum o lance dos personagens de lados opostos que se unem em cumplicidade para combater o mal. No primeiro, dois policiais (um deles infiltrado sem que o outro saiba); no segundo, assassino e policial depois de trocarem balas acabam se unindo como forma de compartilhar os sofrimentos do outro e lutar contra os bandidos. Duas formas interessantes e totalmente diferentes de contar a mesma história, tratar dos mesmos temas, com personagens similares... John woo poderia ter feito mais uns quatro, cinco filmes com essa mesma variação de argumento, provavelmente todos seriam geniais.

1.1.09

THE GAUNTLET (1977), de Clint Eastwood

Pra começar com o pé direito (nada contra os canhotos) o ano de 2009, este filmaço danado de bom da melhor época que o cinema americano de policial/ação viveu, dirigido e estrelado pelo Clintão, que pertencia à mesma laia que Charles Bronson, Steve McQueen, Lee Marvin, e muitos outros que chutaram bundas de bandidos no cinema... bons tempos (não vividos)... sou de 83, então só comecei a assistir os filmes desses caras, com consciência de quem eram, já nos anos 90.

Falando em McQueen, ele foi a primeira opção para viver o policial Ben Shockley em THE GAUNTLET, que depois foi parar nas mãos do velho Clint, e de lambuja a direção do filme, que, aliás, é muito boa. Não havia ainda a perspicácia magistral de hoje, mas como filme de ação é bem segura. Deixa muito claro que o sujeito não ficaria apenas mandando brasa em westerns ou interpretando variações do policial Dirty Harry, como é o caso de Shockley.

Hoje, um romance como AS PONTES DE MADSON (se bem que este já tem um bom tempinho) ou dramas mais densos como SOBRE MENINOS E LOBOS, são obras primas do cinema moderno americano sob o comando de Eastwood. Mas voltando ao THE GAUNTLET, a história trata do policial (Shockley) que recebe a missão de transportar uma testemunha de Las Vegas à Phoenix para um caso que aparenta ser banal. A testemunha é uma prostituta, interpretada pela Sondra Locke, que estava uma belezinha na época.

A coisa começa a pegar quando as aparências banais dão lugar a um esquema que consiste em eliminar tanto a testemunha quanto o próprio Shockley numa conspiração da máfia juntamente com a polícia. E por aí já dá pra ter uma idéia de como as coisas são encaminhadas, e o texto já ficou maior do que deveria e não quero ficar tomando o tempo de vocês neste início de ano! Mas valeria a pena destacar várias cenas, entre elas a chuva de balas em cima do ônibus perto do desfecho. Um dos grandes momentos do cinema de Clint Eastwood.


Obs: Essa arte para o pôster feita pelo Frank Frazetta não é mesmo sensacional?